quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A vida é saudade...


 

A roupa no varal, o sol da manhã, o vento mexendo as folhas das árvores num quintal tão longe... No fundo a gente vive de saudade. Conversamos solitariamente com umas sombras que se impõem num chão de terra ou asfalto.

Chego a pensar que até o cheiro de alguma coisa ativa uma memória de infância ou da semana passada. Pois de tudo na vida, algo que não se ensina é sentir saudade. A gente sente e fim.

Se vejo uma criança correndo ou chorando, me vejo naquela criança chorando ou sorrindo. Acho que ando até chorando demais. São lembranças velhas misturadas com coisas antigas. Quando alguém me conta uma história, uma história só sua, me pego marejando meus olhos ou desviando o olhar para baixo, assoviando para cima. A questão é que ninguém ensina a gente a sentir saudade. Você já veio para o mundo com esse sentimento.

Mesmo que não saiba explicar direito, sente falta do útero, sente falta da pipoca doce naquele começo de beco do calçadão movimentado. Sente até um desassossego ao se dar conta que o barulho do trem urbano te comove.



Mas acho que as manhãs de sábado são mais sofríveis na memória – talvez memória seja um bom bocado de saudade – pois às vezes me vejo imaginando, lá longe, o que eu estaria fazendo: olhando para a cidade lá embaixo? Descendo para ir ao Centro bater perna naquele sol de inverno? Ou simplesmente olhar os cachorros deitados? Não sei.

Domingo também não me vale muito, é tão angustiante quanto. Fica mais pesado. Se saudade é um pouco de solidão, domingo prevê que seguirei sozinho. No fundo, a gente é saudade.