segunda-feira, 28 de julho de 2008

Um poema é um papel em branco

Até onde é você e até onde é a poesia? Pergunta que me faço agora, nesse instante.
Já fui questionado várias e várias vezes sobre meus sentimentos no papel preenchido com letras, frases, parágrafos, etc. E hoje respondo que é o papel em branco. Um poema é um papel em branco. Pelo menos os meus. E é ele quem define até onde vou eu e até onde pode ir meu leitor.
Alguns poemas saíram de mim como um estrondo de alegria. Um marasmo de tristeza. Uma onda de reflexão. Outros foram apenas aglutinados de símbolos fonéticos, acredite: apenas emaranhados de fios de vogais e consoantes. Mas sei que esses fios podem possuir sentido, desde que quem os leia pense que, para mim, que para meu olhar, aquele emaranhando será sempre uma folha em branco, até os que saíram de mim como um estrondo de alegria. Um marasmo de tristeza. Uma onda de reflexão. Outros foram aglutinados de símbolos fonéticos... É isso: SÍMBOLOS fonéticos! Uma folha em branco!
O dia em que eu realmente enxergar um poema meu pararei de me sentir poesia. Pararei de me expressar com poesia. Viva a folha em branco!
Me respondo isso agora motivado pela dificuldade de muitos ao ler um poema bonito, feio, concreto, tijolo... Me respondo isso agora, por me lembrar de um poema meu publicado em uma antologia. Meu único poema publicado.
Presenteei minha orientadora de mestrado com três antologias com textos meus impressos. Por e-mail ela contou ter gostado muito do conto “O livro enfim publicado”, segundo sua definição: “aquele em que você está triste”. Disse ter gostado também da que chamo de “crônica-prosa-poética-reflexiva”: “Livros”, a qual dedico ao meu primo-irmão Gustavo Alvaro. Antes de encerrar o e-mail, ela ressalta, “não opino sobre o poema, não entendo muito bem poesia, não tenho o hábito de ler...”. Curioso.
Não julgo sua capacidade de não entender muito bem poesia, mas sua observação sobre o conto em que eu “estava triste”, imagino que ela, por me conhecer, tenha percebido que aquele eu lírico ia bem mais longe que a história narrada no conto. E isso já não é entender poesia?!?!
Claro!
O que garante, o que dá prova que no conto o eu lírico sou eu? Que o sentimento do eu lírico é meu? O fato da caneta vermelha (me lembro bem de como e onde escrevi tal conto) ter corrido sem muita firmeza no balanço do trem rumo a Central do Brasil? Ou o estilo em primeira pessoa? Não! Nada disso. A simples visão da folha em branco. Da interpretação da folha em branco. A teoria da folha em branco. Até onde é você e até onde é a poesia? não é uma pergunta que caiba apenas aos poetas. Ela cabe aos poeleitos.
Os poeleitos são privilegiados por terem uma folha em branco já preenchida. Meu drama, talvez, desde menino sozinho, foi, não sei ao certo, o de nunca ter conseguido ser um bom poeleito, ou seja, nunca ter conseguido ter olhos para ver as folhas em branco preenchidas. Para mim, sempre restava um pequeno espaço incompleto, até para o eternos clássicos. Viva a folha em branco! E por não ter a capacidade intelectual e profunda de corrigir o adicionar ao incorrigível e inadicionável. Passei a preencher meu próprios espaços e hoje me respondo à fatídica pergunta inicial me convencendo que realmente um poema é um papel em branco e eu não vou tão além de onde o poeleito pode ir... Além do mais, eu nunca conhecerei meu eu lírico!

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