Acho que no fundo, quero evitar os embaraços da viagem de ida para o Centro, como a demora do ônibus e o congestionamento na Via Dutra, por exemplo. Mas a questão é: caminho para evitar as mazelas do trabalho.
Atualmente, no Laboratório de Pesquisa que venho participando, não sem um certo orgulho e vontade de aprender mais, e claro, ver a moda, nossa orientadora tem invocado a arte da crítica, que ao meu ver, é extremamente necessária no, vulgo, meio acadêmico. No entanto, fico sempre com a impressão que meu trabalho ali tem dado início para o fundamento do “cara chato”, “arrogante”, enfim, “o picuinha”, coisas do tipo. Tempos outros os de agora. Lembro-me que, lá pelos idos de 2005, quando cheguei a esse mesmo Laboratório de Pesquisa, para mim, receber as críticas era o majestoso sinônimo de “estão prestando atenção em mim...”, claro, que não descarto a possibilidade da fogueira das vaidades, não afirmo que muitos dos meus críticos na época se valeram de minha normal imaturidade como projeto do projeto de futuro talvez pesquisador para inflarem seus egos. Nada que me abalasse a ponto de tecer a impressão da qual acho que algumas das pessoas do presente Laboratório têm tecido sobre mim.
A coisa toda gira, talvez, em torno da formação que eles tem e que eu não tive, não no diploma, mas, quem sabe no cotidiano dos egos dos professores. Talvez, por isso, não sei, quando ali cheguei, receber uma crítica fosse algo absolutamente natural e, como disse antes, tempos outros aqueles. Cheguei algumas vezes a ouvir, literalmente, sobre algum escrito meu, ou vários: “Esse texto é sem fundamento...”; “Você escreve muito mal”; “De onde você tirou isso?”; “Que texto horrível...”. Enfim, como afirmei, nada que me abale muito, mas abala.
Um certo ranço é o que eu sinto sempre que inicio minha retórica. O mais preocupante, talvez, seja o fato de, ali, depois da orientadora, eu ter a maior titulação, na verdade, quase titulação. Às vezes penso que isso é um grande problema. Já pensei em me ausentar do ofício de participar dos debates, afinal, não tenho mais que cumprir essa obrigação, encontro-me no estágio final da redação da dissertação e quase nenhum outro mestrando ou mestre aparece por ali para dar as caras. O problema é que eu gosto! Gosto de trocar idéias. Gosto de ver minha orientadora criticando, ardentemente criticando. Gosto de mostrar a quem inicia nas veredas tortuosas de querer ser um dia na vida um, talvez, possível, pesquisador, que essa vida tem seus trancos (e troncos) e barrancos. Aliás, tempos outros. Até mais amenos. Acho que a cada ano que passa, as vaidades tornam-se mais amenas. As brigas teóricas, os egos inflados, tudo tem sido corroído em meio às lamentações de falta de verba, bolsa, e tudo mais.
Mas o ranço continua. Ranço é uma palavra forte. Quem sabe nem tanto. Nem tanto ela deveria aparecer aqui. Mas aparece.
O teor que eu tinha, o teor do medo, do não ter estudado ali, do “vou ser tragado”, me fez acelerar meu amadurecimento, engolir críticas azedas como se fosse mel.
Um dia escrevo um texto real sobre a arte da crítica, mas o certo é que seu fundamento é o de ter sido, antes de tudo, criticado ferrenhamente, para saber onde ficam as dores e os amores. E dor e amor nesse meio é mais constante do que parece ser. Para ter certeza do momento certo de assentar no chão aqueles que querem voar com asas de Ícaro e afirmar que, sim, o “cavalo da História” é cavalgável para poucos e que vê-lo passar por nós não nos ajudar na impossível tarefa de nos possibilitar perceber “toda a sua espessura histórica”.
Fico com o estranho sentimento de olhar sempre para os lados e para trás ao descer as escadarias do Instituto, afinal, acidentes acontecem.
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