terça-feira, 2 de junho de 2009

Três reflexões sobre partida e chegada


Filosoficamente, diria eu, chegar e partir são, praticamente, sinônimos. Termos oriundos de, no fundo, no fundo, uma mesma prerrogativa. Uma fórmula poético-musical já utilizada por Milton Nascimento, para citar apenas um artista: “O trem que chega/ É o mesmo trem da partida/ A hora do encontro/ É também despedida.”, define bem o que quero dizer.
Não que eu seja adepto aos círculos viciosos, ou séries de repetições, esse não é o caso, além do mais, estaria eu renegando minhas próprias convicções acadêmicas. Não. A História não se repete. Apesar do grande Marx, talvez, de forma poética, ter definido, belamente, a tal possibilidade de repetição – não iremos a ela.
As três reflexões que exponho a partir de agora são frutos de um momento específico, dentro de uma tessitura de tempo difícil de se definir como passado, presente ou futuro. Possivelmente, por tal indefinição temporal, decidi optar por três e não quatro ou vinte reflexões sobre partida e chegada.
Há alguns dias, comprei uma passagem só de ida para Aracaju. Datada para o dia 24 de maio de 2009, tal passagem pressupõe que demorarei algum tempo, um bom tempo para voltar ao Rio de Janeiro. Na verdade, estou deixando o Rio de forma definitiva. O engraçado é que nunca me senti “carioca” e, a bem da verdade, não o sou, já que “carioca” é quem nasce na cidade do Rio de Janeiro, sendo assim, sou o que chamam de “fluminense”.
Geografias à parte, a questão é que nunca me senti carioca não por definições geográficas, mas por ter sobre a cidade do Rio de Janeiro um olhar estrangeiro. Complicado isso. Mas, essa é uma reflexão sobre a partida e chegada: toda cidade que visite meu peito traz a mesma sensação da que tenho quando vou ao centro do Rio de Janeiro para estudar, pesquisar ou passear.

Mesquita/Rio de Janeiro, 19 de maio de 2009

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A primeira reflexão sobre partida e chegada foi “pensada” enquanto eu estava no Rio de Janeiro, de certo modo, vendo a formação do furacão. O tempo passava ágil, não me despedi de todos os amigos e parentes que eu queria me despedir – são coisas da vida.
Há uma semana e dois dias, pisei no solo sergipano com duas malas e uma mochila – isso foi tudo que tinha que trazer. Umas sete caixas com livros chegaram antes de mim na rodoviária via transportadora e enfrentaram uma viagem de trinta horas que não tive coragem de experimentar.
Assumi como professor assistente as cadeiras de História Medieval I e II na Universidade Federal de Sergipe. Encontrei um clima bom, bons profissionais e fui muito bem recebido. Mas não é sobre profissão que minha voz se expande hoje. Continuo com o propósito de tentar refletir sobre partida e chegada. Eis então minha segunda reflexão sobre o tema...
Estou morando temporariamente com um amigo, também professor da UFS, somos de áreas diferentes – ele é professor de Educação Física – porém temos muitas similitudes que eu poderia listar um livro inteiro, mas a maior delas está no valor dado à família, ao amor que só encontramos num irmão, num pai e numa mãe – família.
Talvez você agora esteja se questionando o que família tem haver com partida e chegada. Muita coisa. Mas o elemento central é a saudade. Nesse caso o leque se abre mais, pois saudade de casa engloba muita coisa. Afinal o que é saudade?
Saudade é o elo maior entre a partida e a chegada. A saudade te faz ir e vir, ou seja, partir e chegar.
Certo dia, parados os dois na cozinha do apartamento, demos de conversar sobre esse sentimento necessário à sobrevivência de retirantes intelectuais como nós. Meu amigo já está aqui em Sergipe faz três anos, eu não estou nem três semanas e alguns problemas que ele teve eu realmente não estou tendo, o primeiro deles é o fato d’eu tê-lo como amigo e franciscano ao me dar morada e o que comer. Claro, sem contar as mágicas e o ótimo blog que ele atualiza de quando em quando (http://comediaemblog.blogspot.com/).
Nosso principal assunto foi justamente saudade. O acostumar-se com ela de uma forma boa e necessária. Lidar com esse sentimento sem que ele nos faça largar tudo e simplesmente partir para chegar de volta no lugar, na terra que deixamos um dia.
Sentimento nobre. Segundo definição dele, sentimento que só sentimos pelo que foi bom, necessário, que nos traz boas lembranças: saudade.
Ontem chorei, chorei sem ter falado com meus pais, com Ana, apenas chorei à noite, em silêncio. Como um nó no peito. Um choro bom de saudade. Um choro bom de partida e chegada...
Aracaju/Sergipe, 2 de junho de 2009 – 17:20

Ps. Logo, logo encerro o tópico com a última e definitiva reflexão sobre chegada e partida...

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