quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Quatro meses longe de casa...

Hoje, dia 24 de setembro de 2009, completa quatro meses que saí do Rio de Janeiro com nove caixas grandes de livros, duas malas, uma mochila e lágrimas nos olhos. Faz quatro meses que vi pela última vez as praias, as ruas e avenidas, o trem, o metrô e Mesquita.
Deixei no Rio de Janeiro, minha família, uma noiva linda, amigos e raízes. Deixei para trás a correria carioca, o morro, o samba, o choro, os botecos e um pouco de poesia. Lá ficaram também problemas de dinheiro, aperto financeiro, sonhos sempre adiados e mais livros. Ficou no Rio de Janeiro um poço de saudade que derrama aqui todos os dias e me lava a alma quando sinto o vento nos cabelos pretos, pretinhos, como diria minha Ana.
Deixei meu pai e minha mãe orgulhosos, mas sem um pedaço de si. Meu quarto não é mais meu e minha casa não é mais minha: é a casa dos meus pais que, agora, quatro meses depois, é lugar de visita para mim. E que logo, logo, chegarei com sorriso aberto. Um mês, dois meses, mais ou menos para eu aparecer por lá.
No Rio de Janeiro, deixei, nessa mesma casa, fotografias que há quatro meses rememoravam apenas meu rosto quando menino, agora, para meus pais e, também, para mim, quando ali pisar, rememorará o tempo em que eu vivia ali e corria de pés descalços pela terra macia e fresca do quintal. Um tempo em que me sentava debaixo das mangueiras, abacateiros, jaqueiras, pensando, sonhando com o futuro: o futuro agora me relembra o passado.
As mesmas ruas em que eu caminhava naturalmente com os cachos ao vento, um sol quente corando o rosto, seja indo ao açougue do “Manéu” comprar contra-filé, seja para ir dar aula ou mesmo um pulo na casa do Elber para estudar música, conversar sobre música e vida, ficaram há quatro meses no Rio de Janeiro.
Há um mês não choro. Há um mês, aos poucos, fui me acostumando com a rotina que me cerca agora: reuniões departamentais, comissões de eventos científicos, viagens para congressos, orientações, aulas, mais reuniões, política acadêmica, vaidade alheia, squash, conversas noturnas com amigos, garrafas de vinho e tulipas de chope. O vazio vai se acomodando no peito, de pouquinho em pouquinho, e vou entendendo, assim, que ficarei por aqui por muito tempo e, enquanto isso, aguardando Ana. Há, ainda, muitos espaços vazios para se acomodarem no peito e na alma, disso eu sei.
Choro agora enquanto ouço Candeia cantado por Teresa Cristina. Talvez, não esteja chorando nem por tristeza, nem por saudade, apenas por quase não chorar mais. Curiosidades do tempo. Choro, talvez, por racionalizar a saudade que me acua dentro do apartamento entre livros, discos e a flauta que, ultimamente, tem soprado apenas canções que falam do meu Rio de Janeiro.
Coisas da vida. Ontem, ao término de uma aula minha, uma aluna veio me perguntar como é sair de casa para tão longe (ela está pensando em fazer concurso para outro estado). Fui enfático: é ruim. Você chorará todos os dias. Haverá sempre um aperto no peito, um nó na garganta quando falar da tua terra, dos teus pais, da sua origem. Mas você se acostuma.
O conselho que a dei, foi o mesmo que ouvi, certa vez, do Kiko, no período em morei com ele aqui em Aracaju. Lembro-me bem da conversa e ainda hoje, já quatro meses depois, ainda marejo os olhos como marejei naquele dia em sua cozinha.
E continuo entre livros e discos. Leitura e música são coisas que não me largam nem na lua. Hoje, quatro meses depois de sair do Rio de Janeiro, cinco dias depois de ter ouvido sua voz, meu pai me ligou para matar saudades. Não comentei que tenho dormido mal, que tive febre no domingo – resfriado mal cuidado, talvez, ou mesmo a própria saudade – me perguntou o que eu estava fazendo: estudando um pouco. “A coisa continua, né, filhão? As leituras não param!” disse ele rindo.
Ontem, foi aniversário da minha mãe. Liguei para ela e desejei saúde. Dei beijos e saudades. Um minuto e pouco de conversa – não havia muito que dizer, realmente. As palavras já não tem bastado muito.
E tem sido assim com todos que me ligam do Rio de Janeiro. Não há muito que conversar. Se eu prolongar um papo por mais de dois minutos, a garganta se fecha, me falta o ar e as palavras se transformam em lágrimas. Até com meus pais, meu primo, minha Ana, até com eles as conversas tendem a serem curtas agora. Os olhos doem, uma pressão horrível vai trazendo de forma dolorida as lágrimas salgadas como água do mar.
Me refugio por aqui, atrás das muitas vozes que crio n’O Ventríloquo. Me acalmo com os comentários dos amigos, dos desconhecidos, de quem passa por aqui e deixa uma voz que seja, um sonzinho que seja, algo que emita um palpitar, uma conversa. Desde o início, há quatro meses, quando se concretizou o primeiro dos sonhos profissionais: ser professor universitário federal, seguir com os estudos, agora como docente, em História Medieval, desde o início, eu sabia que não seria fácil: mas quem disse que tem que ser?

Um comentário:

Carla disse...

Saudades de casa dói, mas tudo na vida tem um propósito! Ainda bem que viestes para cá, és um grande professor e além de tudo, vive nos ensinando a vida! Muito obrigada mesmo por ter aparecido e pelos incentivos dados. Logo essa saudade se acalma, sua Ana chega e as coisas vão se colocando no lugar!
=)