Todo dia quando me deito tenho conversas com alguém que não sei quem é. Nem onde está. Nem como é. Na verdade, fico ouvindo minha própria voz nos meus pensamentos. Me confundo com o barulho do vento. Às vezes, escrevo belos poemas, penso em belas canções. Tudo isso dentro do mundo que crio quando deito a cabeça em meu travesseiro. E essa pessoa está lá, conversando comigo. Tenho quase certeza de que essa pessoa sou eu. São essas coisas que antecedem meu sono. Mas não descanso. Fico me fazendo perguntas, questionamentos sem fim. Pertencer a um lugar é o mesmo que amar alguém?
Hoje não aguentei essa conversa no escuro e me indispus com o travesseiro, com a cama, a colcha fina e o vento. Me levantei e no mesmo escuro que é a antesala do sono, resolvi te encontrar, seja lá quem você é, seja lá onde você esteja ou como seja.
A sala escura reflete apenas a luz da tela do computador, que são meus olhos agora correndo com as palavras surgindo em preto sobre o branco.
Nada mais angustiante, penso eu, do que o papel e a caneta num combate infinito pela palavra. O papel se mantendo branco – puro – e a caneta lutando para preenchê-lo com sua marca, seu cheiro de tinta, percorrê-lo com sua minúscula esfera que, perfeitamente, não deixa essa mesma tinta se borrar. Mas não é assim no computador. É lavou está novo. Você mancha e limpa com uma facilidade tamanha.
O mesmo penso dos quartos de hotéis. Uma cama, uma armário velho e vazio, uma cadeira e mesinha. E sobre ela um copo. Talvez, o quarto mais medonho que eu tenha ficado tenha sido aquele em São Luis, no Maranhão. Somente eu e o quarto com aspectos velhos. Porém, não descreverei o quarto. O quarto ficou para trás nos meus pensamentos.
Uma angústia estranha vara o meu peito. Nem eu mesmo sei direito se é angústia ou saudade. Não do quarto.
A conversa vai acabando. Entre o sono e a vigília. A conversa vai acabando. Entre o sono e a vigília. Entre o sono e a vigília... Sono... Sono... Sono... Vigília! Sono... sono... sono... sono... VIGÍLIA!
Amanheço comigo mesmo e uma sucessão de çççççççççççççç e de iiiiiiiiiiiiiiiii e de sssssssssss e de ffffffffffff que não dizem nada. Ou, talvez, digam tudo – o sono foi mais forte que a vigília. E você, quem é? Ficou comigo o tempo todo ou adormeceu bem mais rápido que eu no primeiro parágrafo?
Nem sei.
Um comentário:
Um amigo insone... Frequentemente o sono perde para essa conversa, que gosto de ter, me levando madrugada a dentro...
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