quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

04/01/2024

 

Tomei uma dessas pílulas para ansiedade, aquelas fitoterápicas. Não acho que funcione plenamente, além do mais, o café que estou passando prejudicará seu efeito. De tempos em tempos percebo que me distancio mais e mais do mundo lá fora. Desci para descartar o lixo, dois grandes sacos, subi dois lances de escada com o vizinho de porta e não lhe dei boa tarde, não o saudei com os olhos, não sorri: senti uma alegria enorme e não me sujeitar a tais gestos de conduta social.

Não sei ao certo – estou sem ânimo ou curiosidade para verificar pelas receitas que guardei ao fim de cada consulta – se foram dois ou três anos que eu engolia pílulas e mais pílulas disso e daquilo outro: para dormir. Para acordar. Para me manter acordado. Para sorrir. Para dormir...

Os lençóis estão na máquina de lavar que entre uma pausa e outra se move com sons ritmados. Até que nesse dia inteiro de calor um leve vento está entrando pela janela da sala. Aqui é tudo tão minúsculo, talvez esse amenize a solidão que eu procuro.

Leio. Ler é algo bom. Não por coincidência acabei de reler um dos livros do Fonseca, um de 2003. Ler sem obrigação é um prazer que quase não me dou mais – e me dou muitos poucos prazeres nos últimos anos. Ontem fui obrigado a ler um texto. É ruim ler por obrigação, tanto quanto nos obrigamos a escrever. Não posso deixar o café esfriar.