Tomei uma dessas pílulas para ansiedade, aquelas fitoterápicas.
Não acho que funcione plenamente, além do mais, o café que estou passando
prejudicará seu efeito. De tempos em tempos percebo que me distancio mais e
mais do mundo lá fora. Desci para descartar o lixo, dois grandes sacos, subi
dois lances de escada com o vizinho de porta e não lhe dei boa tarde, não o
saudei com os olhos, não sorri: senti uma alegria enorme e não me sujeitar a
tais gestos de conduta social.
Não sei ao certo – estou sem ânimo ou curiosidade para
verificar pelas receitas que guardei ao fim de cada consulta – se foram dois ou
três anos que eu engolia pílulas e mais pílulas disso e daquilo outro: para
dormir. Para acordar. Para me manter acordado. Para sorrir. Para dormir...
Os lençóis estão na máquina de lavar que entre uma pausa
e outra se move com sons ritmados. Até que nesse dia inteiro de calor um leve
vento está entrando pela janela da sala. Aqui é tudo tão minúsculo, talvez esse
amenize a solidão que eu procuro.
Leio. Ler é algo bom. Não por coincidência acabei de reler
um dos livros do Fonseca, um de 2003. Ler sem obrigação é um prazer que quase
não me dou mais – e me dou muitos poucos prazeres nos últimos anos. Ontem fui
obrigado a ler um texto. É ruim ler por obrigação, tanto quanto nos obrigamos a
escrever. Não posso deixar o café esfriar.
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