quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O fim de um ciclo

A voz de hoje vem num tom manso e sem a rouquidão costumeira. Solto a voz já de madrugada, não tão tarde, mas já é quinta-feira e como de hábito, minha voz de hoje, na verdade, fala do passado, um passado recente, é claro, mas que é passado.
No dia 03 de dezembro de 2008 me tornei mestre em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Juro que não imaginava que no ato de minha defesa eu estaria tão calmo, sereno, tranqüilo, o jargão me lembra uma antiga música do Grupo Logos, conjunto musical protestante que fez muito sucesso no seio das Igrejas Evangélicas “tradicionais” nos anos 80 e 90.
Era assim que eu estava. Respondi cada questionamento buscando as nuances da pesquisa, fui elogiado, houve diálogo. Houve o que sempre busquei na minha vida acadêmica uma troca coesa, independentemente se os pressupostos teóricos fossem discordantes da banca. E como a mesma banca afirmou, a pesquisa teoricamente estava bem “amarrada”.
Penso agora num passado mais distante, quase esquecido. Não naturalizarei minha trajetória, pois já quis ser muita coisa na vida: goleiro de futebol, cirurgião, cientista, açougueiro, piloto de avião, arqueólogo (no estilo Indiana Jones), músico, sociólogo e físico. Depois de muito sonhar e ainda sou novo, acabei optando pela carreira de professor, de professor de História e nesse trajeto, com uns meses de curso universitário passei a sonhar em ser pesquisador, mais especificamente, medievalista. O sonho passou a ser o mestrado. Eu tinha que fazer um mestrado.
Ressalto que não quero balbuciar jargões como “sou brasileiro e não desisto nunca...”, pensei em desistir várias e várias vezes, ainda hoje o penso. Mas prossigo, prossigo pois cheguei a feliz conclusão de que, realmente, não sei fazer outra coisa. Que independentemente de salário, status ou coisa assim, é fazendo o que faço que me sinto realizado e hoje ou ontem me senti assim.
Foi bom ver e rever rostos conhecidos. Pessoas com quem contei. Senti falta de outras, que continuo contando para minha felicidade, outras não mais. Foi possível contar nos dedos quem estava lá, o que me remete a uma alegria infinitamente grande. Sei que incontáveis foram as pessoas que estavam naquele momento, em algum momento seu, pensando em mim. Talvez, foram esses pensamentos que me tranqüilizaram e agora que relembro, me surpreendo.
Como disse, não quis falar sobre uma naturalização da minha carreira. Eu seria muito feliz sendo açougueiro. Mas não sou. Mas ainda tenho um pequeno sonho de ter um açougue. E não riam, pois é sério!
Porém, prefiro recortar fontes medievais. Uma alcatra do Poema de Mio Cid. Um contra-filé da Vida de Santo Domingo de Silos.
O garotinho da foto quis ser muita coisa, mas ele confessa que nunca pensou que seria mestre em algo, talvez mestre cuca, mas mestre em História... Jamais!
Fica meu terno agradecimento à minha orientadora, pela confiança antes de tudo e a todos que acreditaram em algum momento, me fazendo, também, acreditar!
E este é apenas o fim de um ciclo...


Ps. Escrevo no calor do momento. Não rolou revisão na voz de hoje, então...

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns, veinho. E que novos sonhos sejam acalentados, e conquistados. Que Deus te guie!