Não restam dúvidas acerca do fato que, sim, sem discussões, o som do Cd é melhor que o dos antiquados Lp’s. Mas veja lá! Cuidado com preconceitos bobos e nada musicais, pois durante muito tempo eles foram o exemplo maior de qualidade.
Recentemente, li não sei onde uma matéria sobre “o resgate dos vinis”, resgate, digamos, um tanto atrasado no Brasil, já que na Europa há muito que o acetato está em voga, basta entrar na Internet e comprovar minha afirmação. Algumas lojas brasileiras mantêm, bem modestamente, é claro, um espaço pequenino para os vinis novos, ou seja, fabricados recentemente. É possível contar nos dedos os artistas tupiniquins que ainda lançam ou, pelo menos atualmente, lançaram algum dos seus trabalhos simultaneamente em Cd e vinil. Acho que com segurança posso falar do Caetano Veloso e o álbum Cê e nem é tão recente assim a observação, pois depois dele o baiano já lançou outros trabalhos. Li, também, mais recentemente, que a banda Skank está para relançar seu primeiro trabalho em vinil e o último Cd também, que não sei o nome por pura ignorância e desconhecimento do trabalho dos mineiros, ficando apenas com o conhecimento dos hits nacionais deles, que mesmo que a gente não queira acaba sabendo cantar.
Los Hermanos também fizeram isso quando colocaram na estrada o ótimo 4, mas foi uma edição especial e não conheço ninguém que tenha tal preciosidade sonora.
Agora, falando em “estrangeiro”, a ótima banda Little Joy, do multistrumentista, do já citado Los Hermanos, Rodrigo Amarante em parceria com baterista (que também toca outros objetos sonoros que produzem acordes e melodias) da banda de rock americana The Strokes, Fabrício Moretti, foi lançado em Cd e vinil, lógico que o preço é sal grosso puro. Há também a banda Belle & Sebastian que lança em Cd e vinis seus trabalho há muito tempo e estamos falando aqui de uma banda de gente jovem.
Posso estar enganado, mas deve haver uma explicação muito simples para o vinil nunca ter saído de circulação. Para se ter uma idéia, a única fábrica ainda existente no Brasil está localizada em Belford Roxo e o cara ainda se sustenta com isso, então: Há mercado!
Também acho que devemos levar em consideração o boom dos Dj’s que passaram a ser mais respeitados e vistos, merecidamente, diga-se de passagem, como músicos. E qual o principal instrumento dos caras ao lado das chamadas “pick up’s”? Pois é.
A industria fonográfica quer ganhar e anda perdendo. Vinil é bem mais complicado de se piratear e ainda há os nostálgicos (como eu) que gostam de pôr a bolacha (olha só o resgate aí) na vitrola, limpar a poeira, dar banho, etc. Contudo, vamos às minhas explicações a respeito do meu prazer em ainda comprar vinis e ouvi-los, principalmente.
Porém, antes que o assunto entre em pauta, respondo. Não, não gosto por modismo, já que logo, logo, como explicitei anteriormente, os Lp’s voltarão a ser moda entre a molecada. Tenho provas cabais para me defender das futuras provocações dos amigos que estou (no futuro) apenas acompanhando a onda atual.
Entrei no curso universitário em 2000. Em 2001 e 2002, ainda universitário, passei a colaborar num projeto Católico de pré-vestibulares comunitários e lá fui eu dar aula. Experiência marcante, confesso, por dois motivos: o primeiro, não sou católico e, acredite, na Igreja que eu trabalhava isso exercia um certo “campo de força” de alguns alunos. Segundo, eu dava aula de História do Brasil e na época já me encaminhava para os estudos sobre a Idade Média.
Já na primeira semana de aula uma senhora, entenda-se senhora como senhora, saiu da sala (era seu primeiro dia de aula comigo) afirmando que não estudaria com uma “criança” – eu tinha em 2001 dezoito anos e pouquíssimos fios de barba no rosto, sendo assim, não dava nem para enganar como faço agora nos meus vinte cinco anos.
Após conversa daqui, conversa de lá. A senhora começou a assistir minhas aulas e acabou se tornando uma ótima amiga e incentivadora do meu trabalho.
No fim, todos os alunos, em grande parte da mesma idade que eu, se tornaram meus amigos. Eu tinha o hábito de comentar meus gostos musicais no intervalo das aulas e como trabalhava com História do Brasil, procurava utilizar, quando chegamos no assunto “Ditadura”, exemplos musicais, como Chico Buarque e Caetano Veloso.
Falei que gostava muito de vinis e possuía alguns. Lógico que todos riam (menos a senhora) e não entendiam. Fiquei tachado como o professor novo-velho.
No fim das aulas fizemos um amigo oculto e me deram de presente um Lp do sambista Roberto Ribeiro e todos assinaram seus nomes e escreveram mensagens de agradecimento, esperança, etc. Durante muito tempo fiquei longe desse ótimo disco, intitulado Coisas da vida. Dia desses, antes de viajar para a casa dos pais da Ana para passar as festas de fim de ano, o encontrei jogado na casa antiga que temos e que agora meus pais preparam a reforma para que, possivelmente, eu e Ana moremos após nos casarmos ou alugarmos para complementar o aluguel em outro lugar (o que é bem mais provável).
Lá estava ele numa caixa com outros discos que eu gostava muito e havia comprado em 2003, 2004, ou tinha herdado dos meus pais, como Luz das Estrelas, disco póstumo da Elis Regina, ótimo por sinal e Dick Farney Ao vivo... Estes, acredite, eu comprei. Os que herdei dos meus pais eram coisas mais televisivas como discos de novela.
Se fossem Cd’s estariam arranhados, inutilizáveis. Meus discos estavam lá empoeirados, maltratados, mas perfeitos. Um perfex ou uma flanela e pronto: só colocar na vitrola.
Coisas da vida...
No mais, muitas vezes é bem mais fácil encontrar coisas que estão fora do catálogo ou que nunca foram lançadas em Cd na edição original de Lp. Exemplo disso é o ótimo Todas as teclas de Wagner Tiso e César Camargo Mariano. Pois quando a gente encontra em Cd é made in importação. Vê se pode? Você quer ouvir um disco do Tamba Trio, por exemplo, quer comprar para não baixar da rede, vai numa loja e percebe que o Cd custa R$ 90,00 pois foi lançado no Japão! Acho que por motivos como esse o grande Charles Gavin, baterista dos Titãs, começou a remasterizar e colocar no mercado títulos fora do catálogo como excelentes discos antigos do Belchior, da Elis Regina, etc, por um preço decente.
Continuando, aí você vai na lojinha da Sete de Setembro no Centro do Rio de Janeiro e compra o mesmo disco por R$ 15,00 ou R$ 20,00 e, como eu disse, no futuro ainda pode se considerado vanguardista, estiloso... é, coisas da vida, coisas da vida!
Claro que existem discos usados caríssimos. Mas fica a gosto do colecionador ou mesmo do investidor, já que no futuro, como eu disse, isso dará pano para manga, digo, dinheiro na carteira. Por fim, não, não tem definição ouvir Chico Buarque em vinil... Acho que já falei isso... Coisas da vida!
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