sábado, 29 de agosto de 2009

Sonho...

Cordão do Boi Tolo na escadaria da Alerj - Foto: Bruno Alvaro - 2008

Queria cantar uma canção agora. Uma canção em tom maior. Com pandeiro, tamborim. Uma canção que eu sentisse o bumbo vindo como a batida do meu coração. Queria fechar meus olhos enquanto canto tal canção. Queria sentir o calor pelo meu corpo e a garganta gelando com uma boa lata de cerveja. Abrir os meus olhos e ver pessoas fantasiadas, sorrindo, casais se fazendo sem pensar no amanhã. Gente de máscara, crianças de super-heróis, adultos crianças...
Queria cantar essa canção com os olhos bem fechados. Barganhar dois latões de Skol por cinco reais. Queria comer um salsichão com farofa. Milho verde com manteiga. Tomar Ice de origem duvidosa. Abrir meus olhos e ver a escadaria da ALERJ tomada. O Paço Imperial cheio de gente. Queria beijar a boca da preta, levantar seus braços e fazê-la rodar. Girar a saia florida. Queria jogar serpentina, sorrir com os amigos, esquecer do amanhã. Pegar o metrô lotado rumo a Copacabana e acabar parando em Ipanema. Me banhar no mar no fim da tarde com a mesma bermuda da manhã de domingo.
Queria cantar essa canção arranjada por metais. Voltar para o Centro e subir Santa Teresa com o bloco na rua. Parar no Curvelo e barganhar mais cerveja. Catar as moedas no bolso, procurar caixa rápido e rapar as últimas notas da poupança. Descer de bondinho, parar no Amarelinho e comer manjubinha frita com chope.
Uma canção em tom maior. Não sentir cansaço nem o tempo passar. Queria me refrescar buscando sombra nos Arcos da Lapa esperando algum bloco me chamar. Queria rir dos ousados, criticar os recatados. Caminhar sem rumo e sem preocupação de carros tomando a Rio Branco. Sem hora para a casa – a casa é nossa rua.
Queria seguir o Bola Preta, Mais que merda é essa?, Cordão do Boitatá, Escravos da Mauá... Eu queria agora uma canção em tom maior e ver a preta girar, girar... girar. Tomado de calor, envolto de suor, eu cantaria “carnaval, desengano/ deixei a dor em casa me esperando...”. Apenas sonho. Apenas um sonho de carnaval.

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