domingo, 30 de agosto de 2009

Poema Óxido

A solidão é como ferrugem, vai corroendo
Corroendo
Ando correndo dela – e nada.
Me corrói todo: os ossos, a pele da cara.
Corro, mas vai doendo
Corro mais, mas vai doendo
Dor em dor me consumindo.
Nunca pensei que o Rio me faria tanta falta
Pois se aqui estou cercado de gente
Sinto ferrugem na alma.
Quero o morro sem calma
A roupa pendurada no varal do abacateiro
Favela iluminada sem tiroteio
Pois só sendo carioca para perceber a falta
Que é atravessar a ponte Rio-Niterói e ver tal pintura alta.
Tateio meu peito angustiado
Rio dos ecos que produz minha presença no vazio da sala.
Me tento a ser de ferro
Mas mais e mais vou enferrujando como um velho vestido da Dona Isaura.
Quero o x bem forte no sanduíche
Quero ouvir samba no Trapiche
- Ai, que coisa boa: samba de roda no Trapiche da Gamboa!
Quero afrouxar o coração apertado
Ir a Tijuca visitar o Thiago
Quero ver o dia surgindo aos poucos
Anunciando o dia que para nós sim é o santo:
Pois não há sábado melhor que ver o céu se abrindo para a lua
No Abracadabra, sentando com as mesas na rua.
Preciso comer salame em casa com o Gustavo
Ele ao violão e eu na flauta.
Preciso do som da voz do meu pai
As conversas longas com a minha mãe.
Quero o caminhar com Ana nas ruas estreitas do Rio
Sorrindo feito menino.
Cortar a Linha Vermelha ou a Avenida Brasil – a mais pura coragem!
Ir à Praia Vermelha com meus pais no domingo
Ouvir os passarinhos da Pista Claudio Coutinho.
Fugir de flanelinha
Ver filme no Odeon com pipoquinha
Quero comer churros de verdade
Aí sim, que a ferrugem nunca mais me maltrate
Pois vai doendo
E em dor em dor: vou vivendo.
Pois andar cantarolando Chico Buarque
Pelas calçadas com olhares incógnitos e assustados
Não rarefaz minha saudade
E saudade é prima irmã da solidão
Enquanto vou correndo da ferrugem
A saudade me encontra no colchão.

Aracaju, 30 de agosto de 2009 – 04:20 AM
Bruno Alvaro

2 comentários:

G. Alvaro disse...

Bom, muito bom.

Bom pácarai.


Espero que não perca o xis do sotaque.


E o rio de janeiro continua rindo. Mas não tem tanta graça sem Bruno Alvaro, que também não tinha tanta graça... mas é melhor do que a central do Brasil vazia.

Aquino Neto disse...

ja dizia o poeta: "Antes de casar sara!"
=)
abração Bruno