quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Memórias musicais

Estava aqui pensando no que falar, quando, de repente, me deparo com meu grande amigo Douglas Cezário no MSN e dá-lhe perguntas: “Como vai o Rio de Janeiro?” “Está chovendo, está sol?”... Só para pontuar bem o contexto, conheci o Doug, lá pelos idos de não sei quando. Me lembro que eu estava num sítio, em Xerém-RJ, que pertencia a PIB de Presidente Juscelino (igreja que minha família fazia parte, na verdade, ainda faz) conversando com o Bruno Henrique Louroza, amigo de mesma congregação, ele me falou de um carinha da PIB de Mesquita que cantava pacas e tocava razoavelmente mal (ele vai ficar uma arara, mas... apesar de ter estudado vários instrumentos, Doug sempre foi enrolado com as notas e acordes)! Me disse que esse cara estudava Zootecnia no Colégio de Aplicação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e tava precisando de um baixista para tocar com ele num festival de alunos de lá. Balancei a cabeça e fui jogar bola. Na época, pasmem, eu cursava o último ano do 2º Grau em Administração de Empresas! Não me lembro bem porque eu estudava aquilo, mas já me preparava para o vestibular em Sociologia na UERJ.
Semanas depois, me lembro de estar dormindo em casa quando bate no meu portão o Bruno Henrique com o fusca do avô dele (eu tinha 15 anos na época e ele 16), me dizendo para pegar um caderno pautado (caderno de partitura) e ir com ele até a PIB de Mesquita, mas tinha que ser rápido, pois, para o avô dele, Bruno estava lavando o carro na frente de casa! Ainda não entendi o motivo do caderno de partitura, já que ninguém lia merda nenhuma!
Ainda meio zonzo, coloquei uma bermuda e entrei naquele carro marrom sem entender muita coisa, mas aventura é aventura quando se tem 15 anos e pegar o carro do avô emprestado, um fusca de único dono, o avô do Bruno, e que foi comprado zero quando ainda era carro de rico (no tempo da vovó virgem), era aventura das boas. Fomos nós para a PIB de Mesquita – ah, vale lembrar, meio tardiamente nessa altura da prosa que PIB é a abreviação de Primeira Igreja Batista. Ou seja, é a primeira igreja fundada no local. Assim, no município de Mesquita tínhamos várias PIB’s nos diversos bairros, eu e minha família e o Bruno Henrique (indo e vindo entre a PIB de Mesquita) pertencíamos a do bairro de Juscelino Kubistchek.
Encontrei Douglas Cezário, jovem alto e magrelo, com sorriso grande e voz engraçada sentado esperando. Nos apresentamos: “Esse é o Bruno Alvaro” disse o B. Henrique. Influências para cá e para lá, similitudes. Me mostrou duas canções, lembro de uma ou pelo menos do refrão: “linda, rosa, flor...”. Eu ri. Mas gostei da voz dele. Puta voz aquela, uma coisa soul music que eu ainda não tinha ouvido de um garoto da nossa idade, apesar dele ser um pouco mais velho que nós, um, dois anos, talvez. Mas lembro que já tinha carteira de motorista e pegava o carro do pai de vez em quando para andarmos por Mesquita... anos depois ganhou de presente um Chevette hatch que era a alegria da galera! Mas voltando ao papo...
Explicou o motivo do convite. Precisava de um baixista que tocasse com ele e nosso amigo em comum na UFRRJ no dia seguinte. Aceitei. Eu havia estudado violão com o professor de teclado dele, o Renato, havia um certo conhecimento do que a garotada das igrejas Batistas andavam fazendo, eu já tinha ouvido falar dele, talvez, já tivesse ouvido falar de mim. Fizemos o arranjo. Ensaiamos uma vez apenas. Dormi na casa do Bruno Henrique e o encontramos na manhã seguinte para pegar o famoso ônibus da empresa Ponte Coberta: Nilópolis X Seropédica. Viagem longa, muito longa! Era a primeira vez que eu ia na UFRRJ, anos mais tarde, já mestrando, participei de uma Anpuh regional lá, 2008, e me lembrei com carinho daquele dia de música estudantil. Ganhamos o 2º e 3º lugares. Muitos anos depois, eu contando para Ana, minha futura esposa, qual não foi a surpresa? Ela conhecia a história através de um amigo que havia estudado no Colégio de Aplicação com o Doug e estava lá no dia! Coisas da vida!
O resto é história! Foram muitos sábados e domingos carregando amplificador, caixas, guitarras e pratos! Entrei para a universidade um ano depois, Sociologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, acabei desistindo após alguns meses e indo cursar História, foi a primeira decisão correta na minha vida, a primeira de muitas! Douglas entrou um pouco depois para Biologia, escolha natural. Gostava da área, era bom naquilo, havia feito um bom 2º Grau, numa boa escola... Como eu disse: o resto é história!
Certo dia, eu estava passando um final de semana em Paquetá com Ana e resolvemos pegar a barca e atravessar a Baia de Guanabara para ver no extinto Palácio (cinema de rua maravilhoso no Rio de Janeiro que acabou sabe Deus por qual motivo), Batman – O Cavaleiro das Trevas. Quem eu não encontro lá, com uma nova namorada? Um papo rápido e ele diz que tem algo importante para contar...
No fim da sessão, na pressa de pegar a barca para voltar à Paquetá, ele me puxa rapidinho pelo braço e diz: “Vou ser pai, meu caro... de gêmeos!”. Fiz uma cara de surpresa... Ele riu, aliás, nunca vi o Douglas puto com alguma coisa! Sempre sorrindo para tudo e para todos! Vê sempre o lado bom das pessoas e das coisas. Levando em consideração que os rebentos eram com uma antiga namorada e ele, como sempre, já estava com outra: à procura do amor, como ele mesmo sempre dizia!
Dia desses, me vem ele dizendo que está namorando uma prima minha: “Cara, sou teu primo!”... E eu: “que merda, Doug!” como sempre ele deu aquele riso gostoso e aberto... “Pois é, meu caro, estou namorando a tua prima!”.
Mais um tempo se passa e hoje de madrugada vem ele: “Minha irmã casa sexta-feira!” e eu: “E você casa quando com a minha prima?” imagino que ele tenha rido antes de escrever a resposta no MSN: “Bom, estou pensando em daqui a três anos...” pensei comigo na hora, como um estalo: “Acho que crescemos, ele já pensa em casamento...!”.
Abração Doug! Ging véi!


Ps. A voz de hoje, evidentemente, foi em homenagem a esse cara super gente boa, pai de gêmeos (que não, não são filhos da minha prima). Bom pai. Professor de Biologia do Estado do Rio de Janeiro. Grande conhecedor de Botânica, maravilhoso cantor e grande contador de causos! Claro, meu amigo!
Ps. 2 A foto é de 2007, eu tinha acabado de entrar no mestrado e ainda achava que daria para equilibrar pesquisa, vida de professor e música em grupo! O que, é bem observável: não aconteceu, né?

2 comentários:

G. Alvaro disse...

Andei vendo o douglas há alguns meses lá na pibe de juscelino.!


abç

Anônimo disse...

Boa história. Apesar de felicidade não ser algo que se mensura, um bom parâmetro é recontar as boas histórias que vivemos...

Em tempo: o cine Palácio fechou porque tava dando preju a tempos. Local meio exposto, principalmente nos findis, as pessoas andam preferindo os shoppings. É uma pena, mesmo. Creio que cada um de nós lamenta o fim de algum cine de rua, né?

abração rapaz