quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A sobreviver

O céu treme e cortado por raios. Uma luminosidade linda. Há tempos eu não via isso. Há exatos oito meses eu não via isso. O calor infernal diminuiu um pouco, um vento mais fresco entra pela janela da sala.
Faz um tempo que não converso com você. Mas o silêncio não me doeu a alma. Estou escolhendo boas palavras para degustação, para uma boa prosa, regada ao som da minha própria voz.
Ainda meio exausto pela alegria, uma febre chata me assola, uma coriza me toma tempo e parágrafos, nem me tomo a escrever poesias de fichário. Mas amanhã tem bloco, sábado tem feijoada e caipirinha e mais bloco a noite – vou ver a preta rodar, seja por alto teor alcoólico ou por frescor de alma. Há tempos não converso com você, meu Rio de Janeiro. As lágrimas de São Sebastião escorrem pelas ladeiras – Angra desolada. Cascadura e Madureira inundadas, mas devo ter coragem, ainda hoje rumo para lá – o subúrbio me consola.
Ouço calmamente o primeiro disco do João Bosco. Fico navegando pelo site da Sebastiana. Não sei o que fazer. Também sei as coisas que me pesam nas costas. A tese, a vida e o sorriso. Segunda-feira, retorno a Aracaju: “eu estou remando rio acima por prazer... não a nada a desculpar, foi por querer”. Continuo com as músicas do disco do Bosco e assim vou seguindo ouvindo a chuva, os raios e os trovões.
Minha esposa foi ao shopping. Estou na casa dos meus pais. Estou em paz e sem nada para escrever pr’O Ventríloquo – paciência: “eu estou remando rio acima por prazer... não a nada a desculpar, foi por querer”.
Nessa ausência de inspiração toda, transcrevo, uma das músicas que está nesse primeiro disco de 1973, que na minha opinião é uma das melhores. Na verdade, esse disco, que tem o clássico “Bala com bala” tem várias outras pérolas!

Música: Nada a Desculpar
Autores: João Bosco & Aldir Blanc

Dentre as mentiras da vida
duas nos revelam mais:
- É um prazer conhecê-lo.
- Era muito bom rapaz.
Eu vou é sair de trás da mesa
espiar que é que tem ali de baixo.
Se eu for embora
vou deixar a luz acesa
e se voltar
não limpo os pés
no seu capacho.
Dizem que é fogo atingir
com o meu estilingue
as vidraças insensíveis
do Shopping Center Building.
Se você me perguntar
o que é que eu acho
mesmo que eu ache
eu já digo que não acho.
Enquanto brincam no gramado
as moças chiques
eu quero chuvas pra estragar o piquenique.
Eu não provei aquele tipo de xarope
que está por cima
nas pesquisas do IBOPE:
eu estou remando rio acima
por prazer,
não há nada a desculpar
foi por querer.
Me passe o sal
pra botar na sobremesa
o Grande Público
cansou minha beleza.

Um comentário:

G. Alvaro disse...

Bom,

Bosco é bom.