sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Hoje acordei meio cinza, tão cinza quanto o céu de Aracaju. Engraçado como a gente vai se adaptando a uma cidade. Um amigo meu sempre diz: “o ser humano é como pomba, se adapta a qualquer lugar...”. Começo a concordar com ele e começo a perceber que já consigo me camuflar nessa cidade. Tenho acordado cinza como ela e no decorrer do dia vou ficando azul. Se Aracaju fosse sempre assim, juro que chegaria ao ponto de amá-la e ter mais do que empatia. Mas, “empatia é o primeiro passo para o amor puro” – penso eu com meus botões desabotoados da camisa.
Fiquei de ir à Universidade, porém, um desconfortante problema fisiológico me deixou, madrugado, em casa – só acordo cedo quando necessário. Após o banho e à desculpa, devidamente compreendida, dada a um companheiro que iria comigo até lá, me deu uma baita vontade de conversar com alguém. E eu estou aqui. Então: “come together”!
Desde ontem estou com uma frase na cabeça: “Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira”. Esta é a frase inicial de Budapeste, para muitos, o melhor romance escrito por Chico Buarque – confesso que fico dividido entre ele e Leite Derramado e, no fim das contas, voto sempre em Estorvo para não se ingrato com esses seus escritos mais “maduros”, porém, é outra história, outra conversa.
O motivo da frase ter renascido na memória, mesmo depois de tanto tempo da leitura desse livro é, no mínimo, babaca . Observo que muita gente coloca no Orkut frases em outros idiomas, inclusive eu: latim, inglês e agora há uma onda de francês. Me lembro que quando eu era garoto fui colocado num curso de língua estrangeira e pude optar pelo inglês ou espanhol – escolhi o segundo, pois achava quem estudava inglês meio chato. Passado esse tempo, já no fim da adolescência e início do curso universitário me matriculei num curso de francês, talvez, o único idioma que eu estudei com afinco e vontade. O engraçado é que eu não saia por aí escrevendo em página de relacionamentos (talvez, porque não existiam muitas como hoje) em língua estrangeira. Eu pensava, na época: “ora, por que escreverei e outra língua como estou me sentindo se praticamente ninguém entenderá o que escrevi?”. Está certo que hoje existe o maldito ou bendito, não sei, tradutor do Google. Um dia, fiquei curioso e fui ver como funcionava. Fiquei realmente impressionado, mas como todo tradutor há várias traições ali. Então, melhor não confiar muito. Voltando ao assunto.
Aí você começa a observar esse fenômeno interessante, não é? E fica se questionando, pelo menos eu fico, qual o motivo das pessoas fazerem isso? Será que estão estudando o idioma? Será que querem esconder o que sentem? Será que querem tirar onda? Será que são babacas mesmo? Agora recordei uma babaquice. Na época de universidade, eu tinha uns amigos que gostavam de utilizar expressões em inglês ou mesmo soltar umas frases na língua das ilhas. Aí, quem não sabia o idioma ficava com cara de... Babaca! Outro sinônimo de babaquice é nos obrigarem a falar as palavras certinhas, com a pronúncia correta. Me sinto desobrigado quando não sou um estudante do idioma e também quando não quero ser. Que babaquice! E vamos treinar o th... vamos lá: todo mundo pronunciando direitinho! E o cou? Pronuncia direitinho cou, hein?
Mas é admirável. Juro que é! Acho bonito o esforço de aprender uma língua estrangeira na solidão. Eu, confesso, não conseguiria, talvez, por ausência de força de vontade. Ainda prefiro os cursinhos, as aulas particulares ou a necessidade do dia a dia. Acho que, por isso e só por isso: “Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira”, mas, poxa, Chico, é difícil não debochar, não é não? Aliás, perdão, às vezes, é legal ser babaca! Então, viva as babaquices que ainda temos coragem de fazer! Como os trocadilhos com cou! Salve, São House!

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