sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Porque assim somos feitos

Porque é do amor que fomos feitos
E quando não
É pela simples celebração dos corpos juntos.
Assim fomos feitos
Em movimentos contínuos e suados
Num vai e vem harmônico
Que não aprendemos
Apenas recebemos como dádiva
Assim que fomos feitos.
E é nessa ilusão pela busca do perfeito
– O corpo, a mente – que percebemos que somos falhos
No amor
Na vontade de amar.
Pois se amamos pouco, perdemos
Se amamos demais, tiramos.
É um mesmo vai e vem contínuo
Eterno.
Porque é desse amor que fomos feitos
É dessa ira que saímos.
Dessa ilusão que nos fazemos
E quando não
É o amor que nos sustenta
E se confunde na simples celebração dos corpos juntos.
Enfim somos feitos,
Lançados harmoniosamente no caos,
Suspirados
Somos a conta de uma única gota
Que sobrou de um falo cansado.

17 de outubro de 2008
Bruno Alvaro

O que é um padrão de beleza?


Ontem enquanto descansava um pouco a mente após desgastante leitura do livro de Antonio García y García, Historia del Concilio IV Lataranense de 1215, me deparei com algo na tevê, um clipe antigo que marcou toda uma geração: Beat It do astro pop Michael Jackson.
Parte integrante do disco mais vendido da história da música mundial – Thriller –, tal faixa, que rendeu o supracitado clipe e erigiu, sem contestação, o dito cujo Peter Pan como um dos caras de maior sucesso nessa área de manifestação musical, possui coreografias esplendidas, uma musicalidade fantástica e claro, clichês típicos do saudoso anos 80.
Mas o que mais me saltou os olhos acerca do visual de Jackson em 1983 foi o auge de sua beleza. Não sou o único a defender que mesmo na sua época de Jackson Five, Michael era uma criança negra fofinha e muito bonita – sim, claro, seu narigão era feio, mas eu tenho narigão também e me acho bonitinho!
Procuro entender a obsessão desse artista em tornar-se mais “bonito” ou mesmo, não tenho certeza sobre, desvencilhar-se de sua história triste quando criança, seus traumas, etc, talvez, não sei, ele associe isso a sua raça, cor de pele, vai entender? Enfim, não buscarei objetivos sobre sua descoloração, tampouco, acredito que a explicação acerca de uma doença de pele, seja o real motivo para o embranquecimento do cantor.

O tema da minha voz de hoje, na verdade, versa muito mais a respeito de como ele estava bonito em 1983! Putz, que negro bonito! Confesso que a cirurgia no nariz, afinando-o, porém, nem perto da ausência atual (afinal, quem não sabe que ele quase perdeu o nariz por tanta plástica?), o deixou com traços finos, na minha opinião nem femininos nem tão masculinos - no ponto! Apesar, que algumas mulheres adoram o tipo bruto, rosto fechadão, mas isso, fica a cargo de vocês, senhoras! O cabelo, estilo cocota, não tão liso, apenas cacheado, a pele de um negro chocolate, o famoso "marrom bombom brasileiro" (ainda muito próximo de sua infância afro), davam um tom realmente bonito ao rapaz talentoso e ótimo dançarino. Fico pensando quantos quadris femininos não desejaram rebolar juntinhos com o cara (sim, eu sei, tem gente que diz que ele não gosta da fruta...), mas, eu garanto que um homem bonito e bom dançarino é irresistível! Veja o meu caso, não sou um Fred Astaire, no entanto, quando ensaio meus passos, minha preta fica toda assanhadinha! Um dia ainda viro um pé de valsa, minha preta, um dia ainda viro, prometo!
Me questiono, assim, sobre o que é o padrão de beleza, não só para a sociedade, mas para o individuo, o ator social. Engraçado como atualmente quase não se fala e, ao mesmo tempo, fala-se em indivíduos. Em tempos de identidade e alteridade, muita coisa se choca a conceitos e definições.
Digo isso, pois fico no patamar de não saber definir minha raça. Em minha certidão está assinalado pardo, o que é ser "pardo"? Nem sei.
Sei, sei... Há imposições sociais, histórico de uma falsa superioridade, racismo, preconceito. Porém, mais uma vez, me pergunto: Qual é o padrão de beleza? Dizer que é "pardo" é escapar de algum preconceito? Essa era a saída?
Enumero e perco as contas de pessoas brancas, "pardas", negras, amarelas e verdes que são consideradas lindas, enumeram a People (que, vala-me Deus! De “povo” não tem nada!) ano a ano. Entretanto, como muita gente, também brinco e, sarcasticamente, num bar, na rua, num show, no shopping, aperto mais forte a mão de Ana (esse é nosso código) e aponto quem acho feio ou feia, mal vestido ou vestida, etc, sem se esquecer, é lógico, que algum casal deve estar fazendo o mesmo conosco. Coisas da vida.
Mas mesmo assim, qual é o meu padrão de juízo? Como julgo o que é belo ou feio? Veja o caso do Michel Jackson. Por mim, ele teria ficado no negro estiloso e lindo de Thriller e acho até que me aparecerá gente que discordará sobre minha classificação de “mais que belo” nesse período de vida do cantor pop.
Doente, ele? Não sei, pode ser. Contudo, recentemente, li uma notícia de uma modelo brasileira que aumentou sua prótese de silicone nos seios, pois, além de galgar o primeiríssimo lugar entre as mais peitudas do mundo, ou a mais (?), acha isso bonito! Bom para ela, ruim para sua saúde, sua coluna, seu bem-estar.
Porém, a vida não se faz só de seios, embraqueamento, bronzeamento, alisamento. A vida se faz no trajeto pela busca da felicidade. E com sinceridade? Se o Jackson é feliz e busca ainda a felicidade com suas transformações físicas – torço por ele. O importante é a satisfação com o corpo e a busca, moderada, por essa tal satisfação.
Para encerrar.:
- Não. Eu não faria uma plástica para afinar o meu nariz batatinha. Posso conviver com meu nariz de porquinho, feliz da vida! E também não alisaria meu pixaim: meu cabelo estilo “Coalhada” está ótimo assim!



* Coalhada foi um famoso personagem do humorista Chico Anysio. Tinha uns cabelos cacheados e desengonçados. Uma preponderante barriga e uma tradicional camisa do Vasco da Gama.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Um horizonte distante para a janela da alma

Janela lateral do prédio do Paço Imperial

Esse grito vai sem delongas ou pieguices dedicado a quatro pessoas. Sem muita revisão, sem muito gargarejo ou ensaio. Talvez saia rouco e desafinado – e quem não desafina na vida?
Vai para você Gustavo Alvaro. Vai para você Ana Lúcia. Vai para você Carolina Fortes. E vai para você, minha cara orientadora. Tenho meus motivos. Meus muitos motivos.
Ontem foi dia dos mestres. Maestros que ensinam a ler, escrever. Ensinam em escolas e universidades por esse Brasil. Ontem foi um dia confuso para mim. Mas, um dia que não ensinei, apenas aprendi. Pois nessa arte de ensinar sempre há suas surpresas e a gente aprende mais do que ensina.
A minha veio numa notícia de início desastrosa para minha vida organizada em prol de minha pesquisa histórica que, como bem salientado por Carolina, não deve ser o único foco da nossa vida. Me conformei. Mas não era conselho de conforto era conselho de alguém que sabia o que estava dizendo.
Meu semblante mudou um pouco, já sorria para Gustavo e observada seu novo livro de partituras para viola. A voz embargada que Ana havia ouvido minutos antes pelo celular, possuía uma firmeza conhecida e natural. Eu até já sorria.
O mesmo celular vibrou. Entrei no elevador só. Poucos segundos me separavam do que meses, dias, horas antes eu vislumbrava no horizonte distante. Esses mesmos segundos, me remeteram ao passado. Ao caminho que tracei até ali: o horizonte não era distante, na verdade, era aquele momento. A tranqüilidade me domou mais uma vez.
Um bom orientador não se resume em um milimétrico olhar crítico sob e sobre nossos textos. Não se faz e se perpetua, simplesmente, pelo conhecimento prévio de livros, artigos, caminhos. Não! Definitivamente não! E hoje acabei tendo essa certeza - que já me era clara.
Com pesar uma notícia me foi dada e com uma segurança tamanha a solução encontrada. Uma solução de arrepiar os pêlos do braço. A tensão foi passando. Segredos mais uma vez sendo guardados.
A janela foi se abrindo e um raio de sol foi transpassando as nuvens densas. Mas o caminho ainda é longo, pois o tempo vira. Mas por que desesperar?
Coincidências da vida? Não sei. Mas quando acabo de gritar o que aqui gritei, que música vocês acham que começou a tocar?
Um abraço terno em vocês, viu?
Divido minha voz e cantarolo aqui uma das muitas belas canções da fértil parceria entre Ivan Lins e Vitor Martins. Pois não devemos nunca nos desesperar, jamais!

Desesperar, jamais
(Ivan Lins e Vitor Martins)

Desesperar jamais
Aprendemos muito nesses anos
Afinal de contas não tem cabimento
Entregar o jogo no primeiro tempo

Nada de correr da raia
Nada morrer na praia
Nada! Nada! Nada de esquecer

No balanço de perdas e danos
Já tivemos muitos desenganos
Já tivemos muito que chorar
Mas agora, acho que chegou a hora
De fazer valer o dito popular

Desesperar jamais
Cutucou por baixo, o de cima cai
Desesperar jamais
Cutucou com jeito, não levanta mais

* Do disco: A Noite (P 1979)