sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Por onde será que anda a vontade de saber?

Quarta-feira última, participei do lançamento de um livro acadêmico no qual tenho um artigo. Não citarei o nome do tratado, pois quero evitar possíveis mal-estares pela crítica que aqui farei. Claro que a crítica a que me refiro não é a respeito do livro, mas sobre algo que aconteceu nos bastidores do lançamento e que refletem um certo problema que já vem se estendendo.
O momento sem dúvida foi de festa. Creio, infelizmente, que uma festa um tanto contida e que merecia mais ovação pelo histórico tão trabalhoso que foi o trajeto dos artigos até a prensa. Mas como já ressaltei aqui várias e várias vezes: os tempos são outros. São tão outros que minutos antes, presenciei uma cena que, realmente, nunca pensaria ver (mas no geral, o lançamento foi bonito e a mesa redonda, da qual participei como um dos conferencistas, foi, digamos, peculiar).
Como estava dizendo, minutos antes de assumirmos nossos postos na grande e bonita mesa presente no Salão Nobre, ouvi a talentosa organizadora do tratado, um tanto desanimada, virando-se para mim, em tom de reflexão: “Ando tão cansada. Decepcionada com essa nova geração de orientandos/bolsistas...”. Realmente, me assustei, não pela crítica àqueles que trabalham com ela, mas, pelo cansaço na fala, considerando que a mesma é ainda uma jovem professora. Tentei amenizar, enumerando os ex-orientandos que agora já fazem parte do panteão acadêmico federal ou que têm seus artigos várias vezes publicados por revistas especializadas, mas creio que não foi o suficiente para levantar seu ânimo naquele momento. Pela primeira vez a ouvi citar nomes, um por um, daqueles que não estavam fazendo jus ao apertado dinheiro disponibilizado pela Capes e, acho, que no fundo, do tempo dispensado por ela para orientação. Tempos outros realmente. Citei um nome. Um nome cujo futuro é de estrelas. Jovem rapaz ainda. Caminhando, mas já com passos largos. Ela balançou a cabeça que sim. Mas apenas ele, pelo visto, para ela, configura-se como alguém que ainda vale noites de leitura.
Dali saí com Ana e Thiago, rumamos para Tijuca, fomos comemorar o prenúncio de bons ventos para mim e aproveitar para engolir à seco o empate do Fluminense em pleno Maracanã.
Enquanto estávamos sentados no Vaca Brava, ótimo bar tijucano e razoavelmente barato, comentei sobre meu susto de horas antes. Ana e Thiago riram e me falaram de uma frase que minha falta de atenção na mesa não captou. Em “púlpito” ela não deixou passar seu descontentamento e assinalou enfaticamente que nosso laboratório de pesquisa não é um “clube social”. Curioso, horas antes da mesa redonda, parei para tomar um choppinho com dois amigos e um deles alertou sobre muitos dos que ali estão, apenas o estão por encontros, pela simples oportunidade de ter um lugar. Identidade, talvez. Me fez lembrar aqui de Marc Auge (são tantos os lugares e não lugares não é mesmo?).
Entre um xingamento e outro, um gole de cerveja, uma garfada na deliciosa carne-seca com aipim, Thiago virou-se para nós e, sorrindo, sacramentou: “É o problema do entre safras. Ela ficou mal acostumada com bons orientandos, que levavam o trabalho de pesquisa a sério.”.
Quase não discordo do meu grande amigo, mas, dessa vez, sou obrigado a seguir outro rumo.
Acho que na verdade, a preocupação daquela professora, com uma bagagem acadêmica enorme, é a de perceber que todo um trabalho de anos e anos de dedicação e construção pode estar indo por água abaixo nas mãos de uma “nova geração”, que no fundo é reflexo do que tem sido o nosso Brasil: muita festa e pouco fazer.
É claro que não se pode generalizar. Há muita gente boa por vir. Muita gente compromissada, mas, por enquanto, sua frase anda ecoando na minha cabeça e sua preocupação passa ser a minha!

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