O primeiro jaz no conhecimento alheio. Ou seja, o assunto abordado não interessará a muitos ou mesmo que interesse pedirá um conhecimento, ao menos superficial, da temática por mim escolhida.
Segundo, trata-se de gosto e gosto, dizem, não se discute. E, por fim, não explicarei ou formularei corretamente ou mesmo profundamente minha afirmativa sobre o que classifico como “clássico”. Por isso, melhor parar por aqui se você não está com muita vontade de ouvir devaneios.
Meu objeto de exemplo hoje é a magnífica banda de rock progressivo Genesis. Me fixarei em dois álbuns, um bastante difundido, que por uma série de fatores tornou-se mitológico, e, um outro, ao vivo.
Para os amantes do bom e velho rock progressivo, fiquem tranqüilos, não ousarei ser técnico, tampouco falarei da fase pop da banda. Fico mesmo nos dois álbuns: o de 1973 (o ao vivo) e o de 1974 (o famoso duplo e conceitual) que também não detalharei com mãos de artífice.
Lógico, o disco tem uma capa grotesca, surreal, até mesmo medonha, no sentido de dar medo (curiosamente, um dos guitarristas, não sei qual, não está na capa, acho que é o Rutherford). Eu tenho e confirmo: é de dar medo! Comprei o Lp por 15 paus na antológica loja de discos da 7 de Setembro! Tirando o assunto “foto da capa” o som é... PROGRESSIVO!
Tem saudades do bom e velho rock progressivo? Então você tem que ouvir esse disco que, infelizmente, não que eu saiba, não foi lançado em Cd aqui no Brasil, apenas na Europa e Estados Unidos. Pensei em scannear o encarte com as letras ou parte delas, mas desisti – fica a curiosidade de quem não conhece.
Mas este ainda não é o clássico a que me refiro (ficou uma coisa meio 50 por 1 do Álvaro Garnero, eu sei, mas fazer o quê?).
Sabe o que é um disco conceitual? É exatamente isso que você pensou, não tem erro, a fórmula é fácil, difícil é pôr em prática com bom resultado: Um tema, músicas girando em torno desse tema e tudo na bolacha! Capa seguindo as letras, clipes, etc. Quase não se faz mais isso. Estou por fora ou desatualizado, mas acho que não.
Genesis fez e fez bem na década de 70! E, talvez, de forma quase pioneira – preciso pesquisar, mas preguiça e falta de tempo não me permitem agora.
Pois é, The Lamb Lies Down on Broadway, o disco duplo de 1974 do Genesis é um clássico! É meu exemplo de clássico. Está certo que meu idolatrado Genesis Live de 1973, meio que feito nas coxas, é o meu clássico, meu escolhido. Mas não restam dúvidas que The Lamb Lies Down on Broadway é considerado, por grande parte dos fãs da banda, como o melhor álbum do grupo já lançado. Se é ou não é, não sei. Porém, a critica reafirma a voz do povo idólatra.
Acabei de ouvi-lo há pouco, ouço agora o Live, e confesso que, como por poucas vezes, dou a mão aos críticos. A história criada por Gabriel para o jovem porto-riquenho que vive pelas ruas de Nova York é fantástica e um tanto surreal, é claro.
As canções são formidáveis. Belo resultado da maturidade musical de Banks/Collins/Hackett/Rutherford, já que grande parte das canções foram escritas por eles, pois Peter Gabriel ficou só com as letras, por motivos sombrios ou de estrelismo – quem vai saber?
Simples. É o último álbum com a formação original do Genesis. Pouco, eu sei. Argumento chulo, eu sei. Explicação preguiçosa, também sei. Mas esse é um dos grandes fatores que tornaram The Lamb Lies Down on Broadway um clássico do progressivo. Último álbum de banda com formação original pode ser até ruim, mas acaba virando clássico. Let It Be dos Beatles que o diga.
Entretanto, como muito bem demonstra, em belíssimo artigo, Roberto Lopes (http://whiplash.net/materias/ummagumma/065091-genesis.html), uma áurea estranha pairou por toda a turnê de promoção do trabalho. O que também ajudou a exalar o cheiro de “clássico” no ar.
Nada fora do comum, já que Gabriel fez grande parte da turnê já tendo anunciado que deixaria a banda. E foi o que aconteceu no final de 1975. O resto a gente já sabe. O Genesis continuou com Phil Collins na bateria e na voz, depois ficando de vez como vocalista e integrando como músico contratado o excelente baterista Chester Thompson para assumir suas baquetas, que, na verdade, nunca foram abandonadas (pegue qualquer DVD do Genesis e sempre verá um duo entre os dois bateras!). Com Collins nos vocais e uns dois discos ainda seguindo a linha do progressivo, tempos depois temos o Genesis pop rock, não que tenha se tornado uma banda ruim por conta dessa mudança, até mesmo simples de compreender, mas já não podemos chamar ou comparar com o Genesis da origem e perdão pelo trocadilho etimológico.
Ainda segundo Roberto Lopes, bebi algumas coisas do seu artigo (principalmente a maravilhosa foto promocional da turnê, assim como o ingresso da passagem da banda por Torino) e aconselho aos amantes desse estilo musical, darem uma boa visitada na página-fórum que o cara mantêm sobre rock progressivo (http://www.ummagumma-forum.com/). Enfim, segundo ele, a tal mitologia do álbum recai muito no fato da turnê, praticamente, não ter sido filmada oficialmente, de existirem poucas fotos de registro, etc. Esse que vos fala, inclusive, acabou de baixar do “Ih, u tubi” uma das poucas imagens musicais do período citado, a apresentação da canção “The Lamb Lies Down On Broadway”, a imagem tá uma porcaria, mas...
Acho que é isso: Clássico. Para aqueles que tem dinheiro sobrando, em qualquer loja de shopping dá para encontrar o Cd duplo The Lamb Lies Down on Broadway. Para os nostálgicos como eu (ou investidores, já falei sobre isso em outra ocasião por aqui), pela metade do preço compra-se o Lp duplo, mas requer uma boa vitrola. O que eu tenho não é exatamente o lançado em 1974, mas uma “reedição”, se é que podemos chamar assim, de 1989 da Virgin (gravadora que pertence ao montante BMG, que agora pertence a Sony que pertence... enfim) que, acho, na época comprou a Charisma Records gravadora que lançava originalmente os discos da banda e que nem sei se existe ainda na Inglaterra. Mas é o mesmo velho e bom disco The Lamb Lies Down on Broadway com o encarte, as fotografias, o roteiro da historia do porto-riquenho Rael e por aí vai... Clássico é clássico e fica pra história.
Genesis Live (P - 1973 – Charisma Records)
Lado A
1 - Watcher of The Skies
2 - Get ‘Em Out by Friday
3 - The Return of The Giant Hogweed
Lado B
1 - Musical Box
2 - The Knife
Como o The Lamb Lies Down on Broadway é mais conhecido, me limitarei apenas a dar as referências e mostrar a capa da frente. Quer saber o set list do disco? Basta procurar na net (afinal, já está amanhecendo e não quero ficar aqui listando o set dos dois discos, não é verdade?)