sábado, 31 de janeiro de 2009

Como nascem os clássicos

Acho difícil afirmar que meu balbuciar da madrugada de hoje tenha coerência suficiente para despertar nos possíveis interessados alguma reflexão. Afirmo isso por dois motivos, talvez três, pois, meu pensamento corre solto, sendo assim, nem contei antes de enumerar.
O primeiro jaz no conhecimento alheio. Ou seja, o assunto abordado não interessará a muitos ou mesmo que interesse pedirá um conhecimento, ao menos superficial, da temática por mim escolhida.
Segundo, trata-se de gosto e gosto, dizem, não se discute. E, por fim, não explicarei ou formularei corretamente ou mesmo profundamente minha afirmativa sobre o que classifico como “clássico”. Por isso, melhor parar por aqui se você não está com muita vontade de ouvir devaneios.
Meu objeto de exemplo hoje é a magnífica banda de rock progressivo Genesis. Me fixarei em dois álbuns, um bastante difundido, que por uma série de fatores tornou-se mitológico, e, um outro, ao vivo.
Para os amantes do bom e velho rock progressivo, fiquem tranqüilos, não ousarei ser técnico, tampouco falarei da fase pop da banda. Fico mesmo nos dois álbuns: o de 1973 (o ao vivo) e o de 1974 (o famoso duplo e conceitual) que também não detalharei com mãos de artífice.
Em 1973 foi lançado o único registro ao vivo oficial da formação grandiosa do Genesis: Peter Gabriel (voz, flauta transversa e pandeirola); Phil Colllins (vocais e bateria); Michael Rutherford (Baixo, Guitarra de 12 cordas – na verdade, ele tocava a fusão dos dois instrumentos num só, ou seja, um corpo e dois braços, sendo que um era o baixo e o outro a guitarra); Tony Banks (teclados) e Steve Hackett (guitarra solo). Era a banda!
Lógico, o disco tem uma capa grotesca, surreal, até mesmo medonha, no sentido de dar medo (curiosamente, um dos guitarristas, não sei qual, não está na capa, acho que é o Rutherford). Eu tenho e confirmo: é de dar medo! Comprei o Lp por 15 paus na antológica loja de discos da 7 de Setembro! Tirando o assunto “foto da capa” o som é... PROGRESSIVO!
Tem saudades do bom e velho rock progressivo? Então você tem que ouvir esse disco que, infelizmente, não que eu saiba, não foi lançado em Cd aqui no Brasil, apenas na Europa e Estados Unidos. Pensei em scannear o encarte com as letras ou parte delas, mas desisti – fica a curiosidade de quem não conhece.
Mas este ainda não é o clássico a que me refiro (ficou uma coisa meio 50 por 1 do Álvaro Garnero, eu sei, mas fazer o quê?).
Sabe o que é um disco conceitual? É exatamente isso que você pensou, não tem erro, a fórmula é fácil, difícil é pôr em prática com bom resultado: Um tema, músicas girando em torno desse tema e tudo na bolacha! Capa seguindo as letras, clipes, etc. Quase não se faz mais isso. Estou por fora ou desatualizado, mas acho que não.
Genesis fez e fez bem na década de 70! E, talvez, de forma quase pioneira – preciso pesquisar, mas preguiça e falta de tempo não me permitem agora.

Pois é, The Lamb Lies Down on Broadway, o disco duplo de 1974 do Genesis é um clássico! É meu exemplo de clássico. Está certo que meu idolatrado Genesis Live de 1973, meio que feito nas coxas, é o meu clássico, meu escolhido. Mas não restam dúvidas que The Lamb Lies Down on Broadway é considerado, por grande parte dos fãs da banda, como o melhor álbum do grupo já lançado. Se é ou não é, não sei. Porém, a critica reafirma a voz do povo idólatra.
Acabei de ouvi-lo há pouco, ouço agora o Live, e confesso que, como por poucas vezes, dou a mão aos críticos. A história criada por Gabriel para o jovem porto-riquenho que vive pelas ruas de Nova York é fantástica e um tanto surreal, é claro.
As canções são formidáveis. Belo resultado da maturidade musical de Banks/Collins/Hackett/Rutherford, já que grande parte das canções foram escritas por eles, pois Peter Gabriel ficou só com as letras, por motivos sombrios ou de estrelismo – quem vai saber?



Por que é um clássico?

Simples. É o último álbum com a formação original do Genesis. Pouco, eu sei. Argumento chulo, eu sei. Explicação preguiçosa, também sei. Mas esse é um dos grandes fatores que tornaram The Lamb Lies Down on Broadway um clássico do progressivo. Último álbum de banda com formação original pode ser até ruim, mas acaba virando clássico. Let It Be dos Beatles que o diga.
Entretanto, como muito bem demonstra, em belíssimo artigo, Roberto Lopes (http://whiplash.net/materias/ummagumma/065091-genesis.html), uma áurea estranha pairou por toda a turnê de promoção do trabalho. O que também ajudou a exalar o cheiro de “clássico” no ar.
Nada fora do comum, já que Gabriel fez grande parte da turnê já tendo anunciado que deixaria a banda. E foi o que aconteceu no final de 1975. O resto a gente já sabe. O Genesis continuou com Phil Collins na bateria e na voz, depois ficando de vez como vocalista e integrando como músico contratado o excelente baterista Chester Thompson para assumir suas baquetas, que, na verdade, nunca foram abandonadas (pegue qualquer DVD do Genesis e sempre verá um duo entre os dois bateras!). Com Collins nos vocais e uns dois discos ainda seguindo a linha do progressivo, tempos depois temos o Genesis pop rock, não que tenha se tornado uma banda ruim por conta dessa mudança, até mesmo simples de compreender, mas já não podemos chamar ou comparar com o Genesis da origem e perdão pelo trocadilho etimológico.
Ainda segundo Roberto Lopes, bebi algumas coisas do seu artigo (principalmente a maravilhosa foto promocional da turnê, assim como o ingresso da passagem da banda por Torino) e aconselho aos amantes desse estilo musical, darem uma boa visitada na página-fórum que o cara mantêm sobre rock progressivo (http://www.ummagumma-forum.com/). Enfim, segundo ele, a tal mitologia do álbum recai muito no fato da turnê, praticamente, não ter sido filmada oficialmente, de existirem poucas fotos de registro, etc. Esse que vos fala, inclusive, acabou de baixar do “Ih, u tubi” uma das poucas imagens musicais do período citado, a apresentação da canção “The Lamb Lies Down On Broadway”, a imagem tá uma porcaria, mas...

Acho que é isso: Clássico. Para aqueles que tem dinheiro sobrando, em qualquer loja de shopping dá para encontrar o Cd duplo The Lamb Lies Down on Broadway. Para os nostálgicos como eu (ou investidores, já falei sobre isso em outra ocasião por aqui), pela metade do preço compra-se o Lp duplo, mas requer uma boa vitrola. O que eu tenho não é exatamente o lançado em 1974, mas uma “reedição”, se é que podemos chamar assim, de 1989 da Virgin (gravadora que pertence ao montante BMG, que agora pertence a Sony que pertence... enfim) que, acho, na época comprou a Charisma Records gravadora que lançava originalmente os discos da banda e que nem sei se existe ainda na Inglaterra. Mas é o mesmo velho e bom disco The Lamb Lies Down on Broadway com o encarte, as fotografias, o roteiro da historia do porto-riquenho Rael e por aí vai... Clássico é clássico e fica pra história.

Para dar um gostinho, cito o set list do disco ao vivo:

Genesis Live (P - 1973 – Charisma Records)
Lado A
1 - Watcher of The Skies
2 - Get ‘Em Out by Friday
3 - The Return of The Giant Hogweed

Lado B
1 - Musical Box
2 - The Knife

Genesis Live - 1973

Como o The Lamb Lies Down on Broadway é mais conhecido, me limitarei apenas a dar as referências e mostrar a capa da frente. Quer saber o set list do disco? Basta procurar na net (afinal, já está amanhecendo e não quero ficar aqui listando o set dos dois discos, não é verdade?)

The Lamb Lies Down on Broadway (P - 1974 Charisma Records/ Virgin Records. C - 1989 BMG Music Group)


quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A escolha

Acho que obtive o resultado esperado na última voz d’O Ventríloquo e alarguei minha ingênua dúvida musical e, talvez, até mesmo, infundada, como muitos dos meus amigos me expuseram de forma amena. Contudo, o que mais buscava eu foi salientado no comentário do “andarilho” André de Lemos. Por isso, o acorde de hoje vai para ele e diretamente a ele, principalmente, por sua “hipótese” da escolha dos instrumentos, a escolha deles por nós.
Na última vez quis ausentar-me da fábula que expressa a relação instrumento e instrumentista. Mas cabe aqui um alerta: chamei instrumentista não, simplesmente, aquele que toca um instrumento, mas aquele que domina plenamente tal e dominar entenda-se conhecê-lo como a si mesmo, mantendo, claro, as dificuldades humanas para tal, já que nem nos mesmos nos conhecemos a fundo. Afinal, somos eternos aprendizes. Chamo de instrumentista, Stanley Jordan, chamo de instrumentista, Pixinguinha, chamo de instrumentista Tom Jobim (este último para me eximir das acusações de que só listei gente que compõe “música sem letra”).
Aqui caberia, ainda, a discussão sobre quem é o músico. Quem pode ser chamado de músico? Eu posso? Não sei. Volto a uma conversa com um amigo meu, ótimo instrumentista, formado academicamente em Música (como disciplina universitária, etc), não que eu ache que alguém deva se formar em música para tal.
Certo dia fui convidado por ele como debatedor na apresentação de um trabalho sobre a “Reforma Protestante”, enfim, nesse dia, por ser um Seminário Teológico Batista, houve uma devocional musical antes, nada fora do comum para esse que vos fala. Esse meu amigo ao piano e um grande amigo dele no violão. Discrepância absurda com ele: o individuo do violão. Péssimo instrumentista, um violão, que chamamos de “sujo”, muito trastejado, acordes mal feitos, dedos tocando onde não deviam, etc. Dias depois, fui a casa desse meu camarada pegar umas partituras para exercitar, parte da música que sou péssimo, e comentei sobre o cara do violão, que sabia que era chegado dele. Perguntei como ele conseguia tocar com o cara: “A gente acostuma...”.
Questionei o fato do cara se “apresentar” várias e várias vezes, quase que de uma forma pedante, como músico e perguntei: Você o denomina como tal? Meu amigo respondeu: Sim. É formado em música, mas é mau instrumentista, é mau cantor, é, praticamente, ruim em tudo o que você possa imaginar relacionado à prática musical, mas é bom em teoria, história da música, enfim, é músico. Achei esquisito e alfinetei: então também sou músico!
Acabei compreendendo os conceitos do meio ao qual queria questionar. Sou historiador, não músico, sendo assim, meus conceitos são meus e por aí vai.
Mas voltando ao questionamento do André, que não é só dele como meu: Os instrumentos não nos escolhem? Vou além: A música nos escolhe?
Defendo que sim. Arduamente que sim. Por inúmeros fatores que não destacarei para não me alongar demais numa prosa que é muito especifica e de interesse de poucos.
Acho que poderíamos classificar assim:

Músicos maus instrumentistas
Músicos bons instrumentistas
Músicos multiinstrumentistas
Músicos
E tocadores, que não são músicos, apenas tocadores, mas se acham músicos ou não se acham músicos, mas no fim, são músicos também.

Eu sou um tocador de flauta. Instrumento, por sua vez, que, sim, me escolheu! Mas isso, ah, isso é uma outra história! Pois agora escolho uma ala só: a dos que foram escolhidos pelo instrumento e pela musa música! E nessa ala não importa ser bom o mau instrumentista ou dominá-los todos, mas amá-la sempre!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ainda é possível falarmos de verdadeiros instrumentistas?

Há muito que gostaria de falar sobre este questionamento, entretanto, compreendo que a pergunta não é totalmente clara. Porém, há muito, não busco, pelo menos por aqui, fazer-me claro nas coisas que digo.
O título de saída diz respeito, especificamente, aquele músico especialista em um instrumento só. Digo só no sentido do individuo ser “guitarrista”, “baixista”, “trompetista”, etc. Não que eu seja adepto ou árduo defensor que o músico deva se cerrar nos timbres e sons de um único e solitário instrumento. Não! Mas minha dúvida – sim, é uma dúvida ingênua, criada por mim mesmo intencionalmente – se construiu ainda na adolescência, quando iniciei meus estudos musicais e que sobrevive ainda hoje, talvez com uma maturidade maior e uma possível percepção melhor do contexto histórico que vivemos todos nós.
Me recordo que lá pelos idos dos anos 90, quase no final da década, eu queria ser um guitarrista, ter uma banda de rock, tocar, me “rebelar”, como diria Pepeu Gomes, “fazendo música e jogando bola”.
De uma família protestante, a música era, inevitavelmente, instrumento vivo e real de exaltação do Deus morto na cruz e ressurreto três dias depois. Sendo assim, formar uma banda de rock, música do demônio – eterno inimigo das tropas cristãs, sejam católicas ou protestantes – seria demasiado difícil e doloroso. Há de ressaltar, é claro, que essa apostasia de considerar o bom e velho rock como música do demo é a maior palhaçada que eu já ouvi!
Mesmo assim, iniciei os estudos, afirmando para meus pais ser meu objetivo engrossar as trincheiras contra o mal através da “lira de Davi”, no caso as seis cordas de uma guitarra que ganharia no aniversário seguinte, a contra gosto da minha mãe. Porém, os primeiros passos foram dados no violão que estava largado na casa do meu primo-irmão, e foi com um professor chamado Renato, que, na verdade, era um tecladista batista que tinha uma conhecida passagem num famoso grupo gospel das antigas chamado Logos, que iniciei o aprendizado. Grupo, aliás, que exerceu forte influência em minha religiosidade enquanto estive ligado a instituição Igreja, um, pela qualidade da música que faziam e, dois, pela consistência teológica de suas letras.
Me lembro dos primeiros passos, dos três primeiros acordes que, surpreendentemente, me renderam uma canção simples logo quando cheguei em casa depois da segunda aula. Estudava com afinco aquele instrumento, cujas cordas eram invertidas por ser eu canhoto, o que no futuro geraria grande e grave problema quanto a emprestar ou pegar emprestado violões e guitarras.
Enfim, minha idéia era essa: tocar bem, muito bem, um único instrumento, levando em consideração que eu não fazia distinção entre a guitarra e o violão. Aliás, iniciar meus estudos de guitarra pelo violão já muito me chateava e a desculpa do professor de que era o passo mais correto não me convencia. Com o tempo e a maturidade, percebi que foi o caminho mais sensato a se tomar, já que, sim, são instrumentos diferentes.
Outra coisa que me incomodava era o fato de Renato ser tecladista, algo que só descobri mais tarde quando conheci outro tecladista do grupo Logos, o que acabou se tornando meu grande mentor em assuntos musicais: Elber. Na verdade, continuo com esse preconceito, eu, verdadeiramente, não estudaria ou aconselharia alguém a estudar baixo com um cara que não tem no contrabaixo seu instrumento “base”, principalmente, se você já tem as “manhas” de ter aula particular. Isso aconteceu comigo, acho que em 2006, início de 2006, quando adquiri uma flauta transversa e procurei aula com alguém, fiz apenas uma, pois o cara era saxofonista e só ficava no “migué”. Preferi estudar sozinho mesmo, claro que ainda hoje espero o método que Gustavo me prometeu de presente, talvez, um dia eu ganhe! Mas o que tenho aqui em casa tem dado para o gasto... Continuemos, pois a introdução é longa e realmente demorada.
Com um ouvido finíssimo, o que em música chamamos de absoluto, esse meu amigo, estudava regência na Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio) e era o segundo dos muitos alunos a ter esse dom na sua turma, digamos, divino. Com ele aprendi o termo “instrumento base”, aquele que é teu instrumento de estudo. E acabei, através das muitas conversas com ele, tecendo o termo que hoje chamo de instrumento(s) secundário(s), que explicarei mais para frente.
Na universidade, Elber estudava regência, tendo sido aprovado no exame de habilidade especifica em piano, contudo, o curso possibilitava a escolha de um segundo instrumento, no seu caso, a flauta transversa.
Entretanto, conforme os anos iam passando e nossa amizade se tornando mais forte e fiel, fui percebendo que o músico dominava quase todos os instrumentos que pegava: violão, bateria, guitarra, contrabaixo, etc. Para mim, algo fora do comum, para ele e diversos outros músicos: normal. Lógico que o instrumento, sensivelmente perceptível, que ele tinha mais domínio e afeição era o teclado, ainda mais que o piano, utilizado para a prova.
Por tecladista, verdadeiro tecladista, entenda-se nos dias atuais: arranjador. Sou obrigado a dar o braço a torcer que, ainda, hoje, são eles, com raras, raríssimas exceções, como Luis Cláudio Ramos, os melhores no quesito produção e arranjo, distinguindo aqui as duas etapas. É certo que meu amigo tinha um passo a mais que muita gente de música: o ouvido absoluto, o curso universitário de regência, o conhecimento popular, dentro e fora do segmento cristão (Elber é filho de pastor batista), uma cabeça aberta para novas sonoridades e ritmos e, enfim, o conhecimento clássico.
Isso me faz lembrar de vários nomes como César Camargo Mariano, Wagner Tiso, o grego Yanni e, lógico, o maior de todos os maestros: Antonio Carlos Jobim – que na minha opinião é maior que Heitor Villa-Lobos.
Abandonei então os estudos de guitarra e iniciei um estudo sistemático do baixo de quatro cordas, com um ótimo contra-baixista de seis cordas. Pensei, enfim, ser aquele meu instrumento base – a guitarra e o saudoso violão ficaram como secundários. Uns dois anos de estudo, dificultados pelo fato de, com a tal maturidade, ter decidido não inverter as cordas do instrumento, mas, apenas invertê-lo, e entrei numa banda cristã tocando, sic, guitarra e contra-baixo.
Mas as dificuldades no diálogo entre os meus amigos de banda foram muitas e não eram simples de se contornar na fase em que nos encontrávamos, 16, 17 anos: a educação musical. Após ouvir o que poderia chamar de nata do Heavy Metal, não queria trabalhar coisas simples, na verdade, eu já estava, inclusive, migrando para segmentos mais “dissonantes”, redescobrindo inúmeros sons que iam do samba, bossa nova, música regional e o próprio Heavy mais elaborado, ou seja, já não tinham mais escamas nos meus olhos e meu ouvido necessitava de mais e mais sons. Entendia, assim, que aquilo era a necessidade de conhecer novos timbres, instrumentos, formas de compor e escrever música. Fiquei só.
Volto então ao questionamento ingênuo: Globalização? Necessidade de criação? Leque de possibilidades? Não correr risco de ficar desempregado no meio musical?
Sei que a introdução à minha futura hipótese que tentará responder tais perguntas foi longa, muito longa, mas acho que vale o sacrifício.
Analisando os instrumentistas da classe dos sopros, por exemplo, que, há uns três anos passei a “freqüentar” já que abandonei as cordas e as teclas e decidi tomar como instrumento base a flauta transversa, percebi que apesar de ser um fenômeno um tanto tardio, marcado, na minha opinião, na década de setenta, atualmente não encontramos um flautista simplesmente.
Na verdade, temos num único músico de sopro, uma flauta, um clarinete, um sax alto e soprano. Acho que um bom exemplo pode ser o talentoso Marcelo Bernardes que toca há muito com Chico Buarque. Poderia, claro, citar outros, mas me fixo apenas nele. Acho que esse exemplo atende a primeira (globalização instrumental) e a segunda pergunta (não ficar desempregado).
Bom exemplo, passando para o rock/pop, de multi-instrumentista seria o grande Phil Collins, eterno baterista do Genesis, mas que no entanto toca outros instrumentos e faz jus em dominá-los. Acho que ele responde a segunda e terceira perguntas.
Então, solto mais uma vez minha voz pelo ar e me questiono, sem uma real conclusão: Ainda é possível falarmos de verdadeiros instrumentistas? Ou a proposição deve ser a de que a pergunta se fixa apenas em trompetistas que necessitam de uma embocadura essencial e que não se adapta à flauta por exemplo, a não ser que o individuo seja bastante esforçado – alguém aí já tentou tocar trompete? A própria flauta transversa tem suas nuances bocais...
Em música há uma explicação, um termo para tal situação, o fato de um clarinetista conseguir sem muito estudo ou dificuldade tocar sax, etc. Ou o fato de um guitarrista conseguir tocar, talvez não com a mesma habilidade, o contrabaixo e vice-versa. Nesse último caso, talvez, penso eu, por muitos baixistas começarem os exercícios de digitação e escalas no braço do violão. Ou, enfim, um violinista conhecer os caminhos o cello e por aí vai, mas fico por aqui, pois não me lembro o termo exato que explicar essa “irmandade” entre alguns instrumentos musicais.
O que me resta é concordar muito simploriamente que a música nos leva por diversos caminhos, ritmos, sons, timbres e, inevitavelmente, instrumentos. Mas defendo: melhor tocar muito bem um instrumento só que tocar razoavelmente diversos. Afinal, não estamos mais fazendo cursinho pré-vestibular, não é verdade?
Outra coisa: um caminho ótimo e não nos cerrarmos simplesmente a um segmento. Conheço ótimos músicos de Heavy Metal que tem um exímio conhecimento de outros estilos como bossa nova, samba e poderia citar aqui inúmeros outros ritmos e formas de composição. Talvez isso me gere uma outra dúvida inocente: O que são os estilos?
Acho que é só. Pois música é, simplesmente, ritmo, harmonia e melodia. Alguém discorda?

domingo, 25 de janeiro de 2009

1968


A sensação que tive, ao ver seus olhos vermelhos, ao me ver espelhado no vermelho dos seus olhos brilhantes, foi a de que não adiantaria nada tentar lhe explicar. Por isso, sem mais alarde juntei cada uma das poucas coisas que eu tinha naquele velho sobrado que alugamos e saí sem ao menos me despedir. Ela realmente não entenderia. Seria mais seguro para mim.
Minha barba por fazer, não pela pressa ou por não querer falar muito com ela, já incomodava, mas seria mais seguro para mim. Olhei para os dois lados da rua por um minuto mais prolongado que de costume e do outro lado um fusca azul me esperava. Coincidência ou não ao longe pude ouvir que tocava Joan Baez e um sentimento de tristeza tomou meu coração. Não bem sei se por ouvir a voz soprano de Baez ou por saber que foi comprando um disco seu que nos conhecemos.
Em silêncio tomamos a Presidente Vargas e em silêncio continuamos ao ver carros de guerra nas ruas do Centro, por todo o Centro. Um segundo de obscuridade naquele instante me levaria ao mais fundo do tempo, descobriria, enfim, que a resposta não está no vento e não tardaria para que se confirmasse o veredicto final: nada seria seguro dali adiante para mim e nem para nós.
Me lembrei do que significava nosso sobrado, o que se fazia no nosso sobrado em noites de fumaça e Marx, onde todos choramos abraçados, meses antes, a morte do comandante – ¡Hasta siempre comandante! ¡Hasta siempre y jámas! – onde sorrimos, nos revoltamos, planejamos futuros agora distantes. Precisava voltar. Não era mais seguro para ninguém.
O fusca parou. Avisaram-me que era caminho sem volta. Apenas ouvi o motor roncando e distanciando-se. Tomei um ônibus de volta para a região do Passeio e naquele sobrado escondido, ofegante encontrei o vazio eterno.
O pouco que restou já não era muito, pois tudo estava revirado, não havia gavetas para minha revolta, pratos para que eu quebrasse, os livros estavam rasgados e nos lençóis o cheiro de medo – ela estava dormindo. Tentei me convencer de que as manchas na fronha não eram de lágrimas ainda jovens pela minha rápida fuga sem ela que me perguntava desenfreadamente:
– What have you got to lose? What have you got to lose?
Mas isso era apenas mais uma das músicas que nos alegravam as tardes. Imagino que quando virei as costas ela até pôs alguma coisa para tocar para embalar seu choro doce. Ou não. Ela não chorou, se manteve firme e quando ouviu os barulhos que vinham da porta esforçou-se para não abrir. Manteve-se firme e me mandou ir embora de vez e para sempre. Porém não era eu. Caio em mim e dou a chorar, pois agora o que é que me resta? Fugir mais uma vez?
A clandestinidade jaz no meu coração.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Barack Hussein Obama II

Acho que não há muito que dizer... Está lançada a sorte, os dados foram lançados... Segue o discurso, bonito, confesso. E que dizem, foi redigido por um jovem de 27 anos e, depois, aprovado por Obama, não entendo os esquemas de discursos políticos, enfim, segue traduzido por André Fontenelle (Revista Época) e Luiz Roberto Mendes Gonçalves (UOL).
“Meus concidadãos:
Aqui me encontro hoje, humilde diante da tarefa à nossa frente, agradecido pela confiança depositada por vocês, atento aos sacrifícios feitos por nossos ancestrais. Agradeço ao presidente Bush pelos seus serviços a esta nação, assim como pela generosidade e pela cooperação mostradas durante esta transição.
Quarenta e quatro americanos, até hoje, prestaram o juramento presidencial. Suas palavras foram ditas durante a maré ascendente da prosperidade e nas águas calmas da paz. Mas frequentemente o juramento é prestado em meio a nuvens crescentes e tempestades ruidosas. Nestes momentos a América foi em frente não apenas graças ao talento e à visão daqueles no poder, mas porque nós, o povo, permanecemos fiéis aos ideais de nossos antecessores e aos nossos documentos fundadores. Foi assim e deve ser assim com esta geração de americanos.
É bem sabido que estamos no meio de uma crise. Nossa nação está em guerra contra uma rede de violência e ódio de longo alcance. Nossa nação está bastante enfraquecida, uma consequência da ganância e da irresponsabilidade de alguns, mas também da nossa incapacidade coletiva de tomar decisões difíceis e preparar a nação para uma nova era. Lares foram perdidos; empregos foram cortados; empresas destruídas. Nossa saúde é cara demais; nossas escolas deixam muitos para trás; e cada dia traz novas evidências de que a forma como usamos a energia fortalece nossos adversários e ameaça nosso planeta.
Estes são os indicadores de uma crise, tema de dados e estatísticas. Menos mensurável, mas não menos profundo, é o solapamento da confiança por todo o nosso país. Um medo persistente de que o declínio da América seja inevitável, e que a próxima geração deva ter objetivos menores. Hoje eu lhes digo que os desafios diante de nós são reais. São sérios e são muitos. Eles não serão superados facilmente ou num curto período de tempo. Mas saiba disso, América: eles serão superados.
Neste dia nós nos unimos porque escolhemos a esperança e não o medo, a unidade de objetivo, e não o conflito e a discórdia. Neste dia viemos proclamar o fim de nossos choramingos e falsas promessas, as recriminações e os dogmas desgastados, que por tempo demais estrangularam nossa política.
Ainda somos uma nação jovem, mas, nas palavras das Escrituras, chegou a hora de acabar com as coisas de menino. Chegou a hora de reafirmar nosso espírito resistente; de optar pela nossa melhor história; de levar adiante esse dom precioso, essa nobre ideia, passada de geração em geração: a promessa divina de que todos são livres, todos são iguais e todos merecem a chance de lutar por sua medida justa de felicidade.
Ao reafirmar a grandeza de nossa nação, compreendemos que ela não é um presente. Deve ser conquistada. Nossa jornada nunca foi aquela de atalhos ou de quem se contenta com pouco. Nunca foi o caminho dos fracos de coração – daqueles que preferem o ócio ao trabalho, ou buscam apenas os prazeres da fortuna e da fama. Foi, isto sim, o dos que correm risco, dos que fazem, dos que executam coisas – alguns célebres, mas mais comumente homens e mulheres obscuros em seu trabalho, que nos levaram pelo longo e áspero caminho da prosperidade e da liberdade.
Por nós eles empacotaram suas pequenas posses mundanas e viajaram pelos oceanos em busca de uma nova vida. Por nós eles trabalharam em condições ruins e se estabeleceram no oeste; suportaram o estalar do chicote e araram a terra dura. Por nós eles lutaram e morreram em lugares como Concord e Gettysburg; na Normandia e em Khe Sahn. Mais de uma vez esses homens e mulheres lutaram, se sacrificaram e trabalharam até que suas mãos estivessem em carne viva para que nós vivêssemos uma vida melhor. Eles viram uma América maior que a soma de nossas ambições individuais; maior que todas as diferenças de nascença ou riqueza ou partido. Esta é a jornada que continuamos hoje. Ainda somos a nação mais próspera e mais poderosa na face da Terra.
Nossos trabalhadores não são menos produtivos que no início desta crise. Nossas mentes não são menos inventivas, nossos bens e serviços não são menos necessários que na semana passada, no mês passado ou no ano passado. Nossa capacidade permanece intacta. O tempo de deixar as coisas como estão, ou de proteger pequenos interesses e adiar decisões desagradáveis, esse tempo certamente passou.
A partir de hoje, temos que nos levantar, sacudir a poeira e começar de novo o trabalho de refazer a América. Para onde quer que olhemos, há trabalho a fazer. O estado da economia exige ação, ousada e rápida, e nós vamos agir – não apenas para criar novos empregos, mas para estabelecer novas fundações para o crescimento. Construiremos as estradas e pontes, as linhas elétricas e digitais que alimentam nosso comércio e nos unem. Recolocaremos a ciência em seu devido lugar, e usaremos as maravilhas da tecnologia para elevar a qualidade de nosso atendimento de saúde e reduzir seu custo. Usaremos o sol, os ventos e o solo para abastecer nossos carros e fazer funcionar nossas fábricas. E transformaremos nossas escolas e universidades para atender as exigências de uma nova era. Podemos fazer tudo isso. E faremos tudo isso.
Ora, alguns questionam a escala de nossas ambições. Sugerem que nosso sistema não pode tolerar planos demais. Suas memórias são curtas. Pois esquecem o que este país já fez; o que homens e mulheres livres podem obter quando a imaginação se une a um objetivo comum, e a necessidade à coragem.
O que os cínicos não conseguem entender é que o chão moveu-se sob seus pés. Que as disputas políticas vazias que nos consumiram por tanto tempo não servem mais. A questão que se deve perguntar hoje não é se o governo é grande demais ou pequeno demais, mas se funciona – se ajuda as famílias a encontrar empregos com salários decentes, assistência que possam pagar, aposentadorias dignas. Onde a resposta for sim, nossa intenção é seguir em frente. Onde a resposta for não, os programas serão cortados. E aqueles que administram o dinheiro do povo terão que assumir suas responsabilidades: gastar com sabedoria, mudar os maus hábitos, fazer negócios à luz do dia. Porque só assim poderemos restaurar a confiança que é vital entre um povo e seu governo.
Tampouco enfrentamos a questão de se o mercado é uma força do bem ou do mal. Seu poder de gerar riqueza e expandir a liberdade é inigualável, mas esta crise nos lembrou de que sem um olhar vigilante o mercado pode sair do controle - e que uma nação não pode prosperar por muito tempo quando favorece apenas os prósperos.
O sucesso de nossa economia sempre dependeu não apenas do tamanho de nosso Produto Interno Bruto, mas do alcance de nossa prosperidade; de nossa capacidade de estender oportunidades a todos os corações dispostos - não por caridade, mas porque é o caminho mais certeiro para o nosso bem comum.
Quanto à nossa defesa comum, rejeitamos como falsa a opção entre nossa segurança e nossos ideais. Nossos pais fundadores, diante de perigos que mal podemos imaginar, redigiram uma carta para garantir o regime da lei e os direitos do homem, uma carta expandida pelo sangue de gerações. Aqueles ideais ainda iluminam o mundo, e não vamos abandoná-los em nome da conveniência. E assim, para todos os outros povos e governos que nos observam hoje, das maiores capitais à pequena aldeia onde meu pai nasceu: saibam que a América é amiga de toda nação e de todo homem, mulher e criança que busque um futuro de paz e dignidade, e que estamos prontos para liderar novamente.
Lembrem que as gerações passadas enfrentaram o fascismo e o comunismo não apenas com mísseis e tanques, mas com sólidas alianças e convicções duradouras. Elas compreenderam que somente nossa força não é capaz de nos proteger, nem nos dá o direito de fazer o que quisermos. Pelo contrário, elas sabiam que nosso poder aumenta através de seu uso prudente; nossa segurança emana da justeza de nossa causa, da força de nosso exemplo, das qualidades moderadoras da humildade e da contenção.Somos os mantenedores desse legado. Conduzidos por esses princípios mais uma vez, podemos enfrentar essas novas ameaças que exigem um esforço ainda maior - maior cooperação e compreensão entre as nações.
Vamos começar de maneira responsável a deixar o Iraque para sua população, e forjar uma paz duramente conquistada no Afeganistão. Com antigos amigos e ex-inimigos, trabalharemos incansavelmente para reduzir a ameaça nuclear e reverter o espectro do aquecimento do planeta. Não pediremos desculpas por nosso modo de vida, nem vacilaremos em sua defesa, e aos que buscam impor seus objetivos provocando o terror e assassinando inocentes dizemos hoje que nosso espírito está mais forte e não pode ser dobrado; vocês não podem nos superar, e nós os derrotaremos. Pois sabemos que nossa herança de colcha de retalhos é uma força, e não uma fraqueza.
Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus - e de descrentes. Somos formados por todas as línguas e culturas, saídos de todos os cantos desta Terra; e como provamos o sabor amargo da guerra civil e da segregação, e emergimos daquele capítulo escuro mais fortes e mais unidos, só podemos acreditar que os antigos ódios um dia passarão; que as linhas divisórias logo se dissolverão; que, conforme o mundo se tornar menor, nossa humanidade comum se revelará; e que a América deve exercer seu papel trazendo uma nova era de paz.
Ao mundo muçulmano, buscamos um novo caminho à frente, baseado no interesse mútuo e no respeito mútuo. Para os líderes de todo o mundo que buscam semear conflito, ou culpam o Ocidente pelos males de sua sociedade - saibam que seu povo os julgará pelo que vocês podem construir, e não pelo que vocês destroem.
Para os que se agarram ao poder através da corrupção e da fraude e do silenciamento dos dissidentes, saibam que vocês estão no lado errado da história; mas que lhes estenderemos a mão se quiserem abrir seu punho cerrado. Aos povos das nações pobres, prometemos trabalhar ao seu lado para fazer suas fazendas florescer e deixar fluir águas limpas; alimentar corpos famintos e nutrir mentes famintas.
E para as nações como a nossa, que gozam de relativa abundância, dizemos que não podemos mais suportar a indiferença pelos que sofrem fora de nossas fronteiras; nem podemos consumir os recursos do mundo sem pensar nas consequências. Pois o mundo mudou, e devemos mudar com ele. Ao considerar o caminho que se desdobra a nossa frente, lembramos com humilde gratidão daqueles bravos americanos que, nesta mesma hora, patrulham desertos longínquos e montanhas distantes. Eles têm algo a nos dizer hoje, assim como os heróis caídos que repousam em Arlington sussurram através dos tempos. Nós os honramos não só porque são os guardiões de nossa liberdade, mas porque eles personificam o espírito de servir; a disposição para encontrar significado em algo maior que eles mesmos.
No entanto, neste momento - um momento que definirá uma geração - é exatamente esse espírito que deve habitar em todos nós, pois por mais que o governo possa fazer e deva fazer, afinal é com a fé e a determinação do povo americano que a nação conta. É a bondade de hospedar um estranho quando os diques se rompem, o altruísmo de trabalhadores que preferem reduzir seus horários a ver um amigo perder o emprego, que nos fazem atravessar as horas mais sombrias. É a coragem do bombeiro para subir uma escada cheia de fumaça, mas também a disposição de um pai a alimentar seu filho, o que finalmente decide nosso destino.
Nossos desafios podem ser novos. Os instrumentos com que os enfrentamos podem ser novos. Mas os valores de que depende nosso sucesso - trabalho duro e honestidade, coragem e justiça, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo - essas são coisas antigas. São coisas verdadeiras. Elas têm sido a força silenciosa do progresso durante toda a nossa história.
O que é exigido de nós hoje é uma nova era de responsabilidade - um reconhecimento, por parte de todos os americanos, de que temos deveres para nós mesmos, nossa nação e o mundo, deveres que não aceitamos resmungando, mas sim agarramos alegremente, firmes no conhecimento de que não há nada tão satisfatório para o espírito, tão definidor de nosso caráter, do que dar tudo o que podemos em uma tarefa difícil.
Esse é o preço e a promessa da cidadania. Essa é a fonte de nossa confiança - o conhecimento de que Deus nos chama para moldar um destino incerto. Esse é o significado de nossa liberdade e nosso credo - a razão por que homens e mulheres e crianças de todas as raças e todas as fés podem se unir em comemoração neste magnífico espaço, e porque um homem cujo pai, menos de 60 anos atrás, talvez não fosse atendido em um restaurante local hoje pode se colocar diante de vocês para fazer o juramento mais sagrado.
Por isso vamos marcar este dia com lembranças, de quem somos e do longo caminho que percorremos. No ano do nascimento da América, no mês mais frio, um pequeno bando de patriotas se amontoava junto a débeis fogueiras nas margens de um rio gelado. A capital fora abandonada. O inimigo avançava. A neve estava manchada de sangue. No momento em que o resultado de nossa revolução era mais duvidoso, o pai de nossa nação ordenou que estas palavras fossem lidas para o povo:
“Que seja dito ao mundo futuro ... que na profundidade do inverno, quando nada exceto esperança e virtude poderiam sobreviver ... que a cidade e o país, alarmados diante de um perigo comum, avançaram para enfrentá-lo”.
América: diante de nossos perigos comuns, neste inverno de nossa dificuldade, vamos nos lembrar dessas palavras atemporais. Com esperança e virtude, vamos enfrentar mais uma vez as correntes geladas, e suportar o que vier. Que seja dito pelos filhos de nossos filhos que quando fomos testados nos recusamos a deixar esta jornada terminar, não viramos as costas nem vacilamos; e com os olhos fixos no horizonte e com a graça de Deus sobre nós, levamos adiante o grande dom da liberdade e o entregamos em segurança às futuras gerações.
Muito obrigado. Deus os abençoe. E Deus abençoe os Estados Unidos da América.”


Tradução:
André Fontenelle (Revista Época)
Luiz Roberto Mendes Gonçalves (UOL).

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A brevidade

Já ouviram um choro? Não o choro dos olhos. Não esse. Me refiro, na verdade, ao estilo musical que muitos defendem ser genuinamente brasileiro – não entrarei em detalhes. Contudo, a analogia do choro, da música em geral, me serve como bom argumento. Um choro bom, um choro bem tocado, na maioria das vezes curto, deixa um gosto de quero mais, uma saudade dos sons que acabamos de ouvir, a isso, chamarei de brevidade. Melhor, a brevidade.
Ontem a tarde um amigo meu de trabalho, Vinicius Constant, me fez uma visita e me trouxe de presente de natal três Lp’s, dois instrumentais e um evangélico. Confesso que ainda não ouvi o de música cristã, porém, os instrumentais estão se revezando continuamente na vitrola. Deles falarei, na verdade, de apenas um, o de choro.
Disco peculiar, gravado em 1983 que, com certeza, meu amigo Vinicius não tem a mínima noção da preciosidade que se tornou este disco para mim. Não é um disco raro o tal Brasileirinho – Evandro do Bandolim e seu Regional que agora rola na minha Philips, mas a importância deste músico, nascido em João Pessoa, em 1932 e falecido em 1994 é de registro. Josevandro Pires de Carvalho tocou com grandes nomes da música brasileira, desde o ótimo flautista Altamiro Carrilho, Cartola, Jamelão, Sivuca, etc. Estes fatos contarei quando me encontrar com meu amigo novamente no início do ano letivo quando voltarmos a lecionar.

Mas e a brevidade? Ah, a brevidade! É um sopro, um suspiro. Fazemos tantos planos e um vento sequer vem e nos atordoa. Tudo é tão breve como um choro. A vida é tão breve que pode nos suscitar de repente um choro. A tal brevidade da vida é como um céu azul que rapidamente se carrega de nuvens negras e despenca sobre nós um temporal.
Um choro. Uma chuva. Por volta das 23:17 de ontem enquanto dirigia de volta para casa, sem motivo aparente para vocês ou para o mundo, confesso, chorei. Pela brevidade da vida, eu confesso, chorei.
Subi as escadas devagar, não por cansaço ou velhice, tampouco pelo caminho estar escuro, apenas para não correr muito, apenas para observar o vento nas copas das árvores e o céu limpando. Peguei a flauta, o violão, o violão, a flauta... decidi pela tv. Jabor fala algo sobre terrorismo. Seu talento ficou em Eu Te Amo.

Eu fiquei por aqui e apenas observei, mais uma noite, a brevidade de tudo. Apenas ouvi um Lamento, um breve choro de Pixinguinha e Vinicius de Morais...



sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Peças da memória: “Under a Blood Red Sky”

Alerta: Se você espera um release do DVD do U2 não prossiga – você, com certeza, irá se decepcionar comigo.


A última coisa que balbuciei por aqui foi algo sobre “Além do bem e do mal”, livro que ganhei de um amigo. Acabei falando sobre amizade e explicando a importância do exemplar. De certa forma, mexi um pouco com minha memória, pois tive que retornar aos tempos da graduação e passar em revista meus planos e vê-los realizados nesses dois últimos anos. Enfim, falando em memória...
Ainda me é clara e tornou-se mais visível hoje, na verdade agora pouco, na madrugada, quando acabei de assistir o recém lançado DVD histórico do U2 em Red Rocks.
Datado de 1983, mais exatamente, 05 de junho de 1983, sendo assim, eu ainda estava na barriga da mãe, o tal show é realmente histórico, porém, a questão da memória que é o tema do meu sussurro de hoje entra de supetão, pois este show me é bem familiar. Antes de qualquer alardeio, me explicarei em detalhes.
Lá pelos idos de 1996, 97, quando ainda estava no Ensino Fundamental, assisti na extinta TV Manchete esse mesmo show, lógico, ainda eram tempos de VHS, que confesso não sentir a mínima saudade... Recordo-me, inclusive, de ter gravado no Vídeo Cassete o tal show, que, realmente, como assinalado no DVD atual, não apresentava todas as canções que hoje podemos desfrutar em som digital.
A questão é: nossa U2 é realmente bom! Eu já possuía o show em Cd que tive que comprar novamente. História engraçada. No mesmo ano que mencionei, comprar Cd era um luxo para poucos, pelo menos nas redondezas mesquitenses, lembro-me que ganhei de presente de aniversário um rádio que tocava o disquinho esquisito, um dos primeiros discos que comprei foi justamente “U2 Live: “Under Blood Red Sky”. Oito músicas, o que era chamado de Ep na época do Lp. Uma fortuna. Minha mesada de dois meses. Comprei na antiga “Lojas Parque dos Brinquedos”, na Praça da Liberdade, em Nova Iguaçu. Uma praça que não tem bancos, nem brinquedos, mas um cinema pornô, pelo menos na época tinha...
Bem, o tal luxo, não se podia ter sempre, então, quando queríamos ter um Cd diferente a saída era simples: trocar com um amigo de escola! Foi o que fiz e se arrependimento matasse eu já estaria no osso.
Tempos depois. Muito tempo depois, coisa de quase dois anos, dois anos e meio, comprei novamente o tal Cd, não tão caro...
Infelizmente, minha impressora não está ligando, sabe lá o motivo, por isso não copiarei as capas, também não fotografarei, estou com preguiça!
Mas o que eu queria, realmente dizer, divagando e enrolando muito como fiz é: o DVD vale cada centavo! E foram muitos, eu garanto.



Ps. Sem afinação. Estou cansado para tal.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Além do bem e do mal

Francisco Goya y Lucientes (1746-1828), Los Caprichos, Plate 39 Asta su Abuelo. And so was his grandfather Etching with burnished aquatint, courtesy of Arthur Ross, New York City

(Aos amigos Fernando e Marcus)
Logo após o natal encontrei-me, juntamente com minha Ana, com alguns nobres amigos que já me acompanham desde longa data. Na verdade, considero que são os únicos que ainda tenho o privilégio de manter contato fiel lá dos tempos de Padre Miguel.
Todos tínhamos motivos muitos para comemorar, por Deus, fico agora a pensar que já há dois anos só tenho tido bons motivos na vida! Curioso isso, pois a pena na mão tem estado leve e a escrita mais suave, da poesia à prosa. Minha voz não anda rouca, poucos são os desafinos e é deste jeito, ao som do ótimo álbum Pixinguinha + Benedito – Mário Seve + David Ganc, que solto a voz como sortilégio e com pitadas de vodca para ver se ao final da conversa consigo dormir.
Mas como dizia, ganhei de um grande amigo, que muito me inspirou em minha trajetória acadêmica, um exemplar do ótimo livro do filósofo Friedrich Nietzsche: Além do bem e do mal: Prelúdio a uma filosofia do futuro. Confesso que, assim como o “Cavaleiro Inexistente”, também recebido alegremente como presente na mesma ocasião, eu já possuía tal pérola da filosofia alemã. Contudo, e aqui cabe bem a advertência, não há presente melhor, repetido ou não, que um livro com dedicatórias de pessoas amigas, além do mais, devo dizer, as edições que possuo dos tratados citados não chegam aos pés das que fui presenteado naquele jantar tão agradável.
O livro que Fernando me deu caiu como uma luva ao dia, ao ano, ao contexto, e como é caro, para nós historiadores, o contexto! “Além do bem e do mal”, talvez seja uma das frases que eu e o hilário e talentoso Fernando mais ouvimos em prosas ora reflexivas, ora animadas regadas a um bom chope com Marcus.
“Chegar ao status, estar acima, além do bem e do mal”. Esta é, ainda, sem dúvida nenhuma, a visão futuresca de todo aquele que se envereda pelos caminhos da vida acadêmica – em sua grande parte.
Uma vida cheia de vaidades, frágeis subterfúgios amargos, desavenças e de poucas, pouquíssimas amizades verdadeiras. Vida de uma mão, certamente uma mão, pois somente com uma, talvez duas, pode-se contar os amigos e com várias os desafetos – sugiro a utilização, também, dos dedos dos pés.
“Estar além do bem e do mal” nos dizia Marcus saboreando o chope na Cobal do Humaitá numa madrugada chuvosa em suas primeiras férias no Rio de Janeiro após ser aprovado como professor adjunto da Universidade Federal do Mato Grosso.
Naquele tempo, naquele dia, eu ainda vislumbrava a entrada no mestrado. Fernando havia acabado de ser aprovado. Um mundo novo diante dos nossos olhos.
Daí a importância do Além do bem e do mal do Nietzsche no jantar em dezembro último. Livro que recebi com um sorriso. O mesmo sorriso tateado pelas pontas dos meus dedos quando recebi das mãos de Graça e Marcus o exemplar de O cavaleiro inexistente, cuja dedicatória me mantêm firme nos meus propósitos. Livro que já li duas vezes e cujo trecho que agora descrevo – “mas concluída a página, retoma-se a vida, e nos damos conta de que aquilo que sabíamos é realmente nada”[1] – me acompanha desde que o li pela primeira vez.
Quando passei no doutorado, ouvi de minha orientadora que sua satisfação era grande e que seus planos para mim em dois mil e nove eram vários, principalmente no auxílio na orientação dos novatos. O ano começou realmente assim.
Minha primeira tarefa tem sido a co-orientação final de um graduando cuja monografia apresenta problemas curiosos. Para mim um trabalho gratificante, pois se é isso que quero para o futuro é isso que devo fazer já de agora. Triste para o rapaz que terá que corrigir cada linha do seu texto, ainda truncado e, querendo ou não, ninguém gosta muito de ser corrigido.
Ao mesmo passo, me recordo da frase que ouvi de um outro amigo que seguirá para o Mato Grosso esse ano como professor assistente da mesma UFMT: “agora fico mais tranqüilo, não pesquiso mais para trabalhar, trabalho para pesquisar...”. A frase tem sentido lógico. Um sentido que agora sinto na pele como urticária. Minha matrícula ainda não foi feita no doutorado, mas as responsabilidades de tal condição já me cercam. Em meio à revisão final da dissertação. Em meio às criticas a monografia do graduando, parirei um artigo. O e-mail foi claro: “agora é vida de doutorando, meu caro. A preocupação não é apenas o doutorado, mas também um lugarzinho numa federal.”.
Bem se alguém ainda não entendeu a máxima “estar acima do bem e do mal”, explico de forma simples, mesmo sendo desnecessário, após o texto do e-mail que não preciso citar a fonte: Não é se tornar melhor que todos, melhor que o mundo, tampouco, tornar-se o dono da verdade. Esse nunca foi meu objetivo, nem o nunca será. Não há nada relacionado ao livro do Nietzsche. Não há loucura em tal fala na mesa do bar. Em tempos de crise, até uma criança entenderia. Trata-se de estabilidade e de certo modo: liberdade. Escrever em primeira pessoa. Independência acadêmica, mesmo dentro dos micropoderes, basta apenas saber onde pisar. Evitar os calos dos outros e são muitos. Seguir com os “cavalos da história” diria eu.
Pois no fim do caminho, e sei que esse meu caminho terá de ter um fim, há de ter um fim, por favor, eu creio no fim, não quero citar a mim mesmo, ouvir de mim mesmo as palavras do velho Nietzsche: “É terrível morrer de sede no mar...”.[2]
E a conversa durou todo o Cd... E a conversa acabou com toda a vodca e não me fez adormecer!


Ps. Sim, a gravura de Francisco Goya y Lucientes é uma doce provocação visual.
[1]CALVINO, Italo. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Nilson Moulin. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 59.
[2]NIETZSCHE. Friedrich. Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 64.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O motivo do gosto pelo acetato (Parte final)

Como disse ontem, acho que meio gago pelo cansaço, encerrarei de vez o recorrente assunto sobre “a vitrola”, creio que já rendeu muito e se tornou deveras repetitivo por aqui. Aliás, ninguém hoje em dia dá muita bola para o assunto, pelo menos por enquanto, como demonstrarei.
Não restam dúvidas acerca do fato que, sim, sem discussões, o som do Cd é melhor que o dos antiquados Lp’s. Mas veja lá! Cuidado com preconceitos bobos e nada musicais, pois durante muito tempo eles foram o exemplo maior de qualidade.
Recentemente, li não sei onde uma matéria sobre “o resgate dos vinis”, resgate, digamos, um tanto atrasado no Brasil, já que na Europa há muito que o acetato está em voga, basta entrar na Internet e comprovar minha afirmação. Algumas lojas brasileiras mantêm, bem modestamente, é claro, um espaço pequenino para os vinis novos, ou seja, fabricados recentemente. É possível contar nos dedos os artistas tupiniquins que ainda lançam ou, pelo menos atualmente, lançaram algum dos seus trabalhos simultaneamente em Cd e vinil. Acho que com segurança posso falar do Caetano Veloso e o álbum e nem é tão recente assim a observação, pois depois dele o baiano já lançou outros trabalhos. Li, também, mais recentemente, que a banda Skank está para relançar seu primeiro trabalho em vinil e o último Cd também, que não sei o nome por pura ignorância e desconhecimento do trabalho dos mineiros, ficando apenas com o conhecimento dos hits nacionais deles, que mesmo que a gente não queira acaba sabendo cantar.
Los Hermanos também fizeram isso quando colocaram na estrada o ótimo 4, mas foi uma edição especial e não conheço ninguém que tenha tal preciosidade sonora.
Agora, falando em “estrangeiro”, a ótima banda Little Joy, do multistrumentista, do já citado Los Hermanos, Rodrigo Amarante em parceria com baterista (que também toca outros objetos sonoros que produzem acordes e melodias) da banda de rock americana The Strokes, Fabrício Moretti, foi lançado em Cd e vinil, lógico que o preço é sal grosso puro. Há também a banda Belle & Sebastian que lança em Cd e vinis seus trabalho há muito tempo e estamos falando aqui de uma banda de gente jovem.
Posso estar enganado, mas deve haver uma explicação muito simples para o vinil nunca ter saído de circulação. Para se ter uma idéia, a única fábrica ainda existente no Brasil está localizada em Belford Roxo e o cara ainda se sustenta com isso, então: Há mercado!
Também acho que devemos levar em consideração o boom dos Dj’s que passaram a ser mais respeitados e vistos, merecidamente, diga-se de passagem, como músicos. E qual o principal instrumento dos caras ao lado das chamadas “pick up’s”? Pois é.
A industria fonográfica quer ganhar e anda perdendo. Vinil é bem mais complicado de se piratear e ainda há os nostálgicos (como eu) que gostam de pôr a bolacha (olha só o resgate aí) na vitrola, limpar a poeira, dar banho, etc. Contudo, vamos às minhas explicações a respeito do meu prazer em ainda comprar vinis e ouvi-los, principalmente.
Porém, antes que o assunto entre em pauta, respondo. Não, não gosto por modismo, já que logo, logo, como explicitei anteriormente, os Lp’s voltarão a ser moda entre a molecada. Tenho provas cabais para me defender das futuras provocações dos amigos que estou (no futuro) apenas acompanhando a onda atual.

Entrei no curso universitário em 2000. Em 2001 e 2002, ainda universitário, passei a colaborar num projeto Católico de pré-vestibulares comunitários e lá fui eu dar aula. Experiência marcante, confesso, por dois motivos: o primeiro, não sou católico e, acredite, na Igreja que eu trabalhava isso exercia um certo “campo de força” de alguns alunos. Segundo, eu dava aula de História do Brasil e na época já me encaminhava para os estudos sobre a Idade Média.
Já na primeira semana de aula uma senhora, entenda-se senhora como senhora, saiu da sala (era seu primeiro dia de aula comigo) afirmando que não estudaria com uma “criança” – eu tinha em 2001 dezoito anos e pouquíssimos fios de barba no rosto, sendo assim, não dava nem para enganar como faço agora nos meus vinte cinco anos.
Após conversa daqui, conversa de lá. A senhora começou a assistir minhas aulas e acabou se tornando uma ótima amiga e incentivadora do meu trabalho.
No fim, todos os alunos, em grande parte da mesma idade que eu, se tornaram meus amigos. Eu tinha o hábito de comentar meus gostos musicais no intervalo das aulas e como trabalhava com História do Brasil, procurava utilizar, quando chegamos no assunto “Ditadura”, exemplos musicais, como Chico Buarque e Caetano Veloso.
Falei que gostava muito de vinis e possuía alguns. Lógico que todos riam (menos a senhora) e não entendiam. Fiquei tachado como o professor novo-velho.
No fim das aulas fizemos um amigo oculto e me deram de presente um Lp do sambista Roberto Ribeiro e todos assinaram seus nomes e escreveram mensagens de agradecimento, esperança, etc. Durante muito tempo fiquei longe desse ótimo disco, intitulado Coisas da vida. Dia desses, antes de viajar para a casa dos pais da Ana para passar as festas de fim de ano, o encontrei jogado na casa antiga que temos e que agora meus pais preparam a reforma para que, possivelmente, eu e Ana moremos após nos casarmos ou alugarmos para complementar o aluguel em outro lugar (o que é bem mais provável).
Lá estava ele numa caixa com outros discos que eu gostava muito e havia comprado em 2003, 2004, ou tinha herdado dos meus pais, como Luz das Estrelas, disco póstumo da Elis Regina, ótimo por sinal e Dick Farney Ao vivo... Estes, acredite, eu comprei. Os que herdei dos meus pais eram coisas mais televisivas como discos de novela.
Se fossem Cd’s estariam arranhados, inutilizáveis. Meus discos estavam lá empoeirados, maltratados, mas perfeitos. Um perfex ou uma flanela e pronto: só colocar na vitrola.
Coisas da vida...
No mais, muitas vezes é bem mais fácil encontrar coisas que estão fora do catálogo ou que nunca foram lançadas em Cd na edição original de Lp. Exemplo disso é o ótimo Todas as teclas de Wagner Tiso e César Camargo Mariano. Pois quando a gente encontra em Cd é made in importação. Vê se pode? Você quer ouvir um disco do Tamba Trio, por exemplo, quer comprar para não baixar da rede, vai numa loja e percebe que o Cd custa R$ 90,00 pois foi lançado no Japão! Acho que por motivos como esse o grande Charles Gavin, baterista dos Titãs, começou a remasterizar e colocar no mercado títulos fora do catálogo como excelentes discos antigos do Belchior, da Elis Regina, etc, por um preço decente.
Continuando, aí você vai na lojinha da Sete de Setembro no Centro do Rio de Janeiro e compra o mesmo disco por R$ 15,00 ou R$ 20,00 e, como eu disse, no futuro ainda pode se considerado vanguardista, estiloso... é, coisas da vida, coisas da vida!
Claro que existem discos usados caríssimos. Mas fica a gosto do colecionador ou mesmo do investidor, já que no futuro, como eu disse, isso dará pano para manga, digo, dinheiro na carteira. Por fim, não, não tem definição ouvir Chico Buarque em vinil... Acho que já falei isso... Coisas da vida!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O primeiro acorde do ano (Primeira parte sobre os acetatos)


E estamos aí. Primeiro acorde do ano! Nesse mês de janeiro muita comemoração. Um ano de O Ventríloquo. Acho que cabem algumas explicações aos desavisados. No finzinho do ano passado um conhecido deu uma passada por aqui e gostou de um dos textos. Segundo o mesmo, o estilo de “conversar com o ‘leitor’ o agradava muito na minha ‘escrita’”. Ora, ora companheiro, não são textos. Meu caro, são vozes!
Desde o início a proposta principal dessa budega aqui era liberdade e fuga! Pois é, eu andava querendo falar sem virgulas, pontos, ser desorganizado nas idéias, não me fazer entender, mas acabar alcançando tal objetivo tentando assim parir crônicas sonoras através de vozes diferentes (as vozes de cada pessoa que passasse por aqui). Pois então, para tal, como expliquei, resolvi utilizar a metáfora das muitas vozes (por isso “O Ventríloquo”, entendeu?) e, ainda, a analogia musical... E já se vai um ano.
Mas como eu disse, é um mês de comemoração, um ano de O Ventríloquo e dois anos com Ana e, mesmo que no decorrer da audição não pareça, o primeiro acorde do ano é para ela e é intimamente relacionado à “minha preta”. Um acorde maior, bem feliz.
Explico-me, mesmo não querendo muito: Não é segredo algum que sempre fui inquieto no assunto amor. Inconformado quase. Picuinha, chato, esquisito, mas um bom moço. Não é segredo algum que me meti em furadas, que fui magoado, que já magoei. Quase me tornei um descrente do amor. Quase. Eis que surge Ana. O resto é romance e isso eu guardo para eu e ela. Ela e eu.
Com ela percorri as ruas do centro antigo do Rio de Janeiro. Com ela já comi muita coxinha por falta de grana e com ela almocei e jantei em churrascarias caras, pés sujos, botecos, self service e por aí vai. Deitei-me no MAC, aquela nave espacial construída pelo doido do Oscar Niemayer, mas que tem uma vista linda... Vi pôr de sol em tudo quanto é lugar, já fiquei bêbado, já fiquei puto e na maioria das vezes fui muito feliz. O curioso é que todos, sim, exatamente, todos os meus amigos acabaram a abraçando de tal maneira que não consigo ir a nenhum canto sem ela, mesmo tendo todo os espaço do mundo. Bom.
Dela ganhei de presente um dos mais bacanas presentes de natal da vida: Minha vitrolinha Philips 503 (que agora merece foto).


* Não vou afinar essa voz. Então, possivelmente, podem ocorrer ruídos e falhas lingüísticas! Motivo: quase seis horas de estrada voltando com a família de Cabo Frio.
** Ao som do Lp “Ouvi dizer”, de 1982, do extinto Grupo Elo (que acabou virando Grupo Logos), vou ficando por aqui. Ah, perdão, cabe ressaltar que nesse disco tem o grande sucesso “Autor da minha fé” que pouca gente sabe que foi gravada primeiro nessa versão, digamos, pré-Logos.