quinta-feira, 27 de maio de 2021

12 anos de Universidade Federal de Sergipe

Universidade Federal de Sergipe - Campus São Cristóvão




Dia 27 de maio de 2009, uma quarta-feira. Eu e mais umas duas pessoas aprovadas em concurso público de provas e títulos, assinávamos o Termo de Posse como Servidores Públicos Federais, novos docentes. Eu havia chegado no domingo, dia 24 de maio, meus pais me levaram ao Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, o Galeão. Meu pai me abraçou e apertou minhas mãos olhando com seus olhos verdes, querendo chorar, nos meus castanhos escuros já chorando. Minha mãe me abraçou e chorou, disse algo quase sussurrando no meu ouvido, que nunca me esqueci e mantenho firme, gostem ou não de mim. Ela disse assim: “Nunca esqueça de onde você partiu, não esqueça tudo o que você lutou para chegar aonde chegou, mas principalmente, de onde você é, quem você é, onde é sua casa, onde você nasceu.”
Nasci no dia 18 de julho de 1983, às 06:20 – em ponto – de uma tarde chuvosa e fria, em Mesquita, Primeiro Distrito do Munício de Nova Iguaçu. Parto normal e rápido. Meu pai trabalhava no comércio, em Madureira, numa rede chamada Papelaria América, entrou como auxiliar de serviços gerais e aos poucos chegou a Gerente de uma das filiais, passou por várias, Rua Uruguaiana, no Centro do Rio de Janeiro, Rua da Alfândega, Cascadura, Nilópolis... Minha mãe foi auxiliar de cozinha, trabalhou com faxina em casas de gente rica, oriunda ainda naquela época da aristocracia iguaçuana e que nos anos 90 migrou para a Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes... Morávamos num sítio enorme, as terras eram baratas em Mesquita nos finais dos anos 70 e início dos anos 80, a casa era “bem ajeitadinha”, segundo conta minha mãe. Era uma casa de estuque, o que chamamos aqui em Sergipe de “casa de taipa”. Não havia luz elétrica, uma pequena televisão de imagem preta e branca conectada numa bateria de carro não me chamava atenção. Eu gostava de ficar no chão da casa brincando com bonecos, trecos de todo o tipo, ou correr entre as plantações de cana, café, pés de jaca, manga espada e carlotinha. Havia muitos abacateiros também, além de araçá e goiaba (branca e vermelha), isso quem conta é meu pai. Essas minhas incursões me renderam quase morrer afogado numa fonte que havia ao lado de nossa casa, o que me salvou foi o instinto rápido de minha mãe e as várias vitórias-régias e um velho que não lembro o nome – depois ligo para o Rio de Janeiro para perguntar – que tinha um sítio vizinho ao nosso e capinava seu terreno no outro lado da cerca de arame. Eu tinha problemas de saúde: não peguei peito, logo não mamava leite materno, não comia direito e o ambiente era muito frio no inverno e no verão mesmo que o sol não fosse algo diretamente chocante, as muitas árvores e a mata atlântica oriunda da Serra do Mendanha que é todo um maciço que circunda a geografia entre Baixada Fluminense e Zona Oeste etc. tornava a necessidade de respirar complexa para mim. Na verdade, a geografia do Estado do Rio de Janeiro é fantástica, a própria capital tem um quê de charme medonho: uma cidade espremida entre as montanhas, morros e o mar. Com quase dois anos de idade completos, meus pais e tios (irmão do meu pai casado com a irmã da minha mãe) que também moravam no grande sítio, aonde também residiam minha avó paterna e seus dois filhos: um tio mais novo e uma tia doidona mais velha que até hoje não fala com o restante da família, compraram uma casa – mais abaixo da montanha. Mudaríamos então para o Morro da Chalet, n. 300, hoje no bairro Santa Terezinha, no agora munícipio de Mesquita. 12 anos. E ainda tenho sotaque. 12 anos e ainda sinto o cheiro das árvores no quintal da minha infância. 12 anos e não vejo muito sentido em tudo que fiz para chegar aonde cheguei, mesmo chegando. 12 anos e aprendi que assim como a força do amor da minha mãe e do meu pai, proporcionalmente, eu não sabia, quando via minha – já formada – enfermeira, trabalhando para o SUS, se doando, ganhando pouco, com o branco do uniforme com gotas de sangue que não eram seu – que o ódio, inveja, rancor, contra Servidores Públicos iria me fazer o mesmo mal que fez à ela, levando-a ao poço da depressão, aos remédios, psicólogos, psiquiatras. Sigo o mesmo caminho, mas ao menos ainda há a Prozac. Quando converso com minha mãe e questiono se não há um excesso de drama, sua firmeza e sutileza de quem nasceu em Marechal Hermes, subúrbio do Rio de Janeiro, viveu a infância em Cabuçu e Mesquita, ela me aconselha: 
se disserem que você está fazendo drama ou é fraco: Manda se foder”.
 

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