Mesmo que pareça,
isso não é uma resenha. Minha voz soa um tanto rouca – talvez pelo excesso de
sorvete de menta com chocolate ou mesmo por, em meio a pandemia de COVID-19,
lecionando remotamente do pequeno apartamento alugado, esquecer de beber água
enquanto falo sobre História Medieval para docentes em formação. Ontem terminei
após três dias as 591 páginas da edição em língua portuguesa publicada neste
ano de 2021 pela Belas Letras, Editora de Caxias do Sul, RS, com tradução de
Fernando Scoczynski Filho.
Intitulado “Kurt Cobain- Diários”, a leitura é pesada, afinal, são escritos retirados de diários. A organização é interessante, mesmo que, enquanto historiador de formação, eu esteja habituado com isso: de um lado os manuscritos – fotografados/escaneados/fotocopiados, como queiram – e do outro a tradução à nossa língua (não tenho conhecimento da edição original cujo título é “Journals”, certamente, seguiu essa linha). Não quero falar com você sobre conteúdo. Kurt foi um artista, mas acima de tudo: uma pessoa. Basta uma busca pela Internet e você poderá ter suas próprias conclusões sobre seu trabalho musical – se bom ou ruim – e, se se achar no direito, tecer suas conclusões vazias sobre a personalidade de um jovem de 27 anos que se suicidou com um tiro de espingarda no queixo na estufa de plantas de sua casa, em 1994. Eu ainda tinha 13 anos de idade e o show do Nirvana um pouco mais de um ano antes, no Hollywood Rock, no Rio de Janeiro, transmitido ao vivo por uma grande rede de TV, ainda era um forte impacto na minha cabeça. Não, não é um trocadilho com o impacto do projétil na cabeça do jovem Kurt. Nunca busquei fotos macabras da cena do suicídio e demorei muito para ler na íntegra sua carta final (que, FELIZMENTE, não está presente na publicação “Diários”. O que não deixa de ter lógica, afinal, trata-se de uma carta de suicídio – não publiquem cartas de suicídio, a Sociedade de Psicologia agradece, abutres. Tais documentos só têm validade se manuseados – no meu ponto de vista – historicamente, sociologicamente, antropologicamente. Como me esquecer do que senti numa aula de História da antiga 7ª Série ginasial a carta-suicídio de Getúlio Vargas, a frase de efeito: “Saio da vida para entrar na história” me assombrou durante meses. Que ironia).
Por sinal, um parêntese, disse que sou historiador de formação, sim, é verdade e me veio na lembrança uma pichação que li a caminho da faculdade, não lembro o ano, deveria ser nos primeiros períodos, pois ainda ia de ônibus (depois meu pai me liberou o carro): “É melhor queimar de uma vez a se apagar aos poucos”. A frase que se tornou lendária, pois foi citada na carta deixada por Cobain, na verdade, é um trecho de uma canção de Neil Young, chamada “My My, Hey Hey (Out Of The Blue)”. Quem pichou o muro, ali, na altura da Praça do Canhão, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde está a Estação de Trem, o pequeno viaduto, um complexo de quarteis do Exército, casas de subúrbio e por onde passava meu ônibus Nova Iguaçu X Bangu, talvez não tivesse essa informação sobre ser uma citação. Eu não sabia. Soube quando no mesmo dia entrei no laboratório de informática da Universidade, acessei a Internet e “descobri”. Fim.
Como eu disse – acho que você ouviu bem –, terminei ontem o livro “Diários”. Escolho mal minhas leituras quando não estou bem psicologicamente. Já disse isso outras vezes, eu sei. Sou repetitivo. Acho que já conversamos sobre isso a respeito d’O Processo de Kafka.
Diários são materiais importantes. Eu tenho um diário. Não, O Ventríloquo não é um diário. Por mais que possa parecer que eu reparta com você minha vida, são vozes que sei imitar, vozes que sei colocar para fora sem que você perceba meus lábios se movendo. É assim desde 2007. Mas, eu tenho um diário. Escrevo a mão. A capa é linda. Ele foi feito artesanalmente pela Aline Viana, acho que ela tem uma conta no Instagram chamada Miçanga na Praia e vende esse material. A arte dele [o meu diário] é uma fotografia em sépia do Aldir Blanc com o João Bosco tomando cerveja num botequim no Rio de Janeiro e na contracapa os dois de pé, foto em preto e branco, na porta, acho, do mesmo botequim. Elas são do período de lançamento do Lp Galos de Briga (1976).
Ontem escrevi nesse diário. Apesar de ser um diário, não escrevo diariamente. Mas como havia terminado de ler o livro – do Kurt Cobain? Livro? – fiquei pensando nas últimas páginas escritas, sobre vício em heroína, sobre o que viria ser o último trabalho de estúdio do Nirvana, o Lp “In Utero” (1993), o impacto na mídia, sua ira etc. Antes de dormir, ouvi via streaming o material. “In Utero” de fato é um bom trabalho artístico, mistura bem o que foi o primeiro Lp “Bleach” (1989) – meu preferido – com o que alavancou a banda para o cenário mainstream, o conhecido “Nevermind” (1991). Tenho a discografia completa em Cd e alguns Lps da banda. Em Cd as versões são todas remasterizadas e Delux, comemorações de 20 anos de lançamentos. Dei as edições antigas para amigos.
No fundo, numa sexta-feira como essa, numa sexta-feira de final de maio, 28, nem sei por que estou conversando, falando. Talvez eu esteja meio zonzo ainda. Não sei. Continuo. Sigo.
Recordei-me, ou encaixou melhor, a biografia que li da banda tempos atrás, escrita por Michael Azerrad, intitulada “A História do Nirvana – ‘Come As You Are’”, tradução de Júlio de Mattos, Editora Madras, 2008 [original de novembro de 1993, nos Estados Unidos] e, também, o excelente documentário “Cobain: Montage of Heck” (2015).
Os antidepressivos foram fazendo efeito no meu corpo. Ainda com certo tempo de tirar os fones dos ouvidos após a audição de “In Utero”, fiz o download na plataforma de streaming do show “Live and Loud” gravado pelo Nirvana no dia 13 de dezembro de 1993 e cujo DVD minha mãe me presenteou na última vez que visitei o Rio de Janeiro, em 2019. Fiz meu exercício matinal no quarto onde tenho estudados nos últimos meses obras de Bach no piano da Roland e ouvi offline “Live and Loud” e só parei de pedalar quando a última canção “Endless, Nameless” terminou.
Ps. Como
comprei o livro em pré-venda no site da Belas Letras, recebi algumas
memorabilias como o manuscrito em folha separada da letra da canção “Lithium”.
Música número um no meu setlist de fã do Nirvana e se o post scriptum pode
ser mais longo, a bicicleta mais cara – no sentido monetário do termo – que tenho,
dada de presente em outubro de 2019 pelos meus pais, foi batizada justamente
com o nome da canção. Lítio é uma medicação ambulatorial para transtornos
mentais, como bipolaridade, por exemplo. Infelizmente, em determinando momento
da vida, tanto eu quanto minha mãe tivemos que ser tratados, não ao mesmo
tempo, é claro, com essa medicação.
Intitulado “Kurt Cobain- Diários”, a leitura é pesada, afinal, são escritos retirados de diários. A organização é interessante, mesmo que, enquanto historiador de formação, eu esteja habituado com isso: de um lado os manuscritos – fotografados/escaneados/fotocopiados, como queiram – e do outro a tradução à nossa língua (não tenho conhecimento da edição original cujo título é “Journals”, certamente, seguiu essa linha). Não quero falar com você sobre conteúdo. Kurt foi um artista, mas acima de tudo: uma pessoa. Basta uma busca pela Internet e você poderá ter suas próprias conclusões sobre seu trabalho musical – se bom ou ruim – e, se se achar no direito, tecer suas conclusões vazias sobre a personalidade de um jovem de 27 anos que se suicidou com um tiro de espingarda no queixo na estufa de plantas de sua casa, em 1994. Eu ainda tinha 13 anos de idade e o show do Nirvana um pouco mais de um ano antes, no Hollywood Rock, no Rio de Janeiro, transmitido ao vivo por uma grande rede de TV, ainda era um forte impacto na minha cabeça. Não, não é um trocadilho com o impacto do projétil na cabeça do jovem Kurt. Nunca busquei fotos macabras da cena do suicídio e demorei muito para ler na íntegra sua carta final (que, FELIZMENTE, não está presente na publicação “Diários”. O que não deixa de ter lógica, afinal, trata-se de uma carta de suicídio – não publiquem cartas de suicídio, a Sociedade de Psicologia agradece, abutres. Tais documentos só têm validade se manuseados – no meu ponto de vista – historicamente, sociologicamente, antropologicamente. Como me esquecer do que senti numa aula de História da antiga 7ª Série ginasial a carta-suicídio de Getúlio Vargas, a frase de efeito: “Saio da vida para entrar na história” me assombrou durante meses. Que ironia).
Por sinal, um parêntese, disse que sou historiador de formação, sim, é verdade e me veio na lembrança uma pichação que li a caminho da faculdade, não lembro o ano, deveria ser nos primeiros períodos, pois ainda ia de ônibus (depois meu pai me liberou o carro): “É melhor queimar de uma vez a se apagar aos poucos”. A frase que se tornou lendária, pois foi citada na carta deixada por Cobain, na verdade, é um trecho de uma canção de Neil Young, chamada “My My, Hey Hey (Out Of The Blue)”. Quem pichou o muro, ali, na altura da Praça do Canhão, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde está a Estação de Trem, o pequeno viaduto, um complexo de quarteis do Exército, casas de subúrbio e por onde passava meu ônibus Nova Iguaçu X Bangu, talvez não tivesse essa informação sobre ser uma citação. Eu não sabia. Soube quando no mesmo dia entrei no laboratório de informática da Universidade, acessei a Internet e “descobri”. Fim.
Como eu disse – acho que você ouviu bem –, terminei ontem o livro “Diários”. Escolho mal minhas leituras quando não estou bem psicologicamente. Já disse isso outras vezes, eu sei. Sou repetitivo. Acho que já conversamos sobre isso a respeito d’O Processo de Kafka.
Diários são materiais importantes. Eu tenho um diário. Não, O Ventríloquo não é um diário. Por mais que possa parecer que eu reparta com você minha vida, são vozes que sei imitar, vozes que sei colocar para fora sem que você perceba meus lábios se movendo. É assim desde 2007. Mas, eu tenho um diário. Escrevo a mão. A capa é linda. Ele foi feito artesanalmente pela Aline Viana, acho que ela tem uma conta no Instagram chamada Miçanga na Praia e vende esse material. A arte dele [o meu diário] é uma fotografia em sépia do Aldir Blanc com o João Bosco tomando cerveja num botequim no Rio de Janeiro e na contracapa os dois de pé, foto em preto e branco, na porta, acho, do mesmo botequim. Elas são do período de lançamento do Lp Galos de Briga (1976).
Ontem escrevi nesse diário. Apesar de ser um diário, não escrevo diariamente. Mas como havia terminado de ler o livro – do Kurt Cobain? Livro? – fiquei pensando nas últimas páginas escritas, sobre vício em heroína, sobre o que viria ser o último trabalho de estúdio do Nirvana, o Lp “In Utero” (1993), o impacto na mídia, sua ira etc. Antes de dormir, ouvi via streaming o material. “In Utero” de fato é um bom trabalho artístico, mistura bem o que foi o primeiro Lp “Bleach” (1989) – meu preferido – com o que alavancou a banda para o cenário mainstream, o conhecido “Nevermind” (1991). Tenho a discografia completa em Cd e alguns Lps da banda. Em Cd as versões são todas remasterizadas e Delux, comemorações de 20 anos de lançamentos. Dei as edições antigas para amigos.
No fundo, numa sexta-feira como essa, numa sexta-feira de final de maio, 28, nem sei por que estou conversando, falando. Talvez eu esteja meio zonzo ainda. Não sei. Continuo. Sigo.
Recordei-me, ou encaixou melhor, a biografia que li da banda tempos atrás, escrita por Michael Azerrad, intitulada “A História do Nirvana – ‘Come As You Are’”, tradução de Júlio de Mattos, Editora Madras, 2008 [original de novembro de 1993, nos Estados Unidos] e, também, o excelente documentário “Cobain: Montage of Heck” (2015).
Os antidepressivos foram fazendo efeito no meu corpo. Ainda com certo tempo de tirar os fones dos ouvidos após a audição de “In Utero”, fiz o download na plataforma de streaming do show “Live and Loud” gravado pelo Nirvana no dia 13 de dezembro de 1993 e cujo DVD minha mãe me presenteou na última vez que visitei o Rio de Janeiro, em 2019. Fiz meu exercício matinal no quarto onde tenho estudados nos últimos meses obras de Bach no piano da Roland e ouvi offline “Live and Loud” e só parei de pedalar quando a última canção “Endless, Nameless” terminou.
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