É
evidente que não devemos falar aquilo que pensamos no instante que pensamos,
deve haver um filtro – provavelmente a Ciência já deva ter estudado isso no
nosso cérebro – que segure a junção das palavras até que forme uma oração.
Nota
mental: fluxo de consciência
é em Literatura, no fazer literário, resumindo didaticamente, o pensamento de
um personagem sendo descrito pelo narrador enquanto o pensamento ocorre, algo
assim. A escritora Virgínia Wolf tem muito isso em seus livros (ao menos é a
que li). Em nossa língua, posso dizer de carteirinha que o grande alagoano Graciliano
Ramos e o mineiro Guimarães Rosa, faziam como ninguém Fim da Nota mental
Voltando
ao que eu chamei de “fluxo de pensamento” – que é quase a mesma coisa que o tal
do fluxo mental. É preciso tomar cuidado com essa merda, se não você
acaba se tornando um presidente de uma república federativa, cuja Democracia
ainda é jovem demais e você se enrolará nos seus fluxos e refluxos, demorará a
responder e-mails, enfim, vai fazer merda. Por isso mesmo, se você me ouvir
bem, você aí que acha que está lendo, mas na verdade me ouve com sua própria
voz, me escute bem: há um lapso entre o que eu penso e o que eu falo. Um lapso
grande. Por isso contarei um causo. Gosto de causos em prosas.
O
Teixeirinha é um grande amigo meu, um dos melhores, dou meu braço esquerdo pelo
Teixeirinha e sou canhoto. Ele gosta de correr, acho que resolve lá seus
problemas correndo. Eu acho um saco correr. Mas entendo. Eu por sua vez,
pedalo. Hoje, segunda-feira, o dia mais temível da semana – sempre odiei
segunda-feira e curiosamente nasci numa – após os afazeres do trabalho fui
pedalar no rolo fixo com minha querida Prozac (uma Caloi Comfort 500, ano 2013,
modificada em suas peças de fábrica, original, só o quadro, os freios e as
rodas). Enquanto me preparava para começar meu exercício do dia, me veio à
mente o Teixeirinha e certa vez que ele esteve aqui em casa, fumamos muito
charuto e bebemos muita cachaça e ficamos analisando bateristas. Revimos uma
três vezes, talvez cinco, um vídeo de análise com partitura das levas de John Bonham, baterista do Led Zeppelin.
Teixeirinha,
assim como eu, teve aulas de música quando garoto e sabe lá seus solfejos.
Estudou clarinete. Mas diz que queria muito, muito aprender bateria. Curioso
que o primeiro contato que todos nós temos com a música, acho que todos, sem
sombra de dúvida, é com o batuque de alguma coisa, nem que seja com a testa no
chão. Eu por exemplo, história mais que verdadeira e foi o que levou minha mãe
a me matricular em aulas de música, é que quando vi o show do Nirvana, em 1993
pela TV e os caras quebrando tudo, pensei: “Putz, isso é rock!”. A coisa ficou
estranha em casa. A caixa estourou quando em 1996 comprei com minha mesada o Cd
“Roots” do Sepultura e comecei a juntar panelas e tampas, colheres de pau e
montei uma “bateria” e “ensaiava” quando chegava do colégio, lá por voltas das 13:00.
Minha mãe estava sempre dormindo, pois seus plantões nos Hospitais eram noturnos.
Não irei longe. Nunca fui baterista. Fui estudar violão e instrumentos mais “melódicos”
na mentalidade da minha mãe.
Se
você cresceu entre os anos 80 e 90 com certeza ouviu Phil Collins. Na sua
biografia “Ainda estou vivo: uma autobiografia”, Rio de Janeiro, Editora
BestSeller, tradução de Phellipe Marcel, 2018 [original: “Not Dead Yet”, de
2016), por sinal, baita livro, o músico no prefácio escreve duas coisas que me
marcaram muito e repito em voz alta o que li: “[...] como trabalhei! Se você
consegue se lembrar dos anos 1970, certamente não esteve em tantas turnês do
Genesis quanto eu, Tony Banks, Peter Gabriel, Steve Hackett e Mike Rutherford.
E se você se lembra dos anos 1980, peço desculpas por mim e pelo Live Aid.”
Algumas
linhas se seguem e ele finaliza o prefácio e já dá a dica que os compassos dos capítulos
que compõem o livro serão frenéticos, leio em voz alta, mais uma vez: “Fui
tocado pela morte quando meu pai faleceu, justamente no momento em que a
decisão de seu filho hippie de trocar uma vida segura por uma vida na música
começou a render frutos. Também fui atacado quando, no curto período de dois
anos, Keith Moon e John Bonham morreram, ambos aos 32 anos. Eu os venerava.
Lembro de ter pensado, na época: “Esses caras deveriam durar para sempre. São
indestrutíveis. São Bateristas.” Meu nome é Phil Collins, sou baterista e sei
que não sou indestrutível. Esta é a minha história.”.
Enquanto
eu pedalava, uma hora cravada, ouvia o primeiro disco solo do baterista que
virou cantor e que tem como pérola a frase: “I’m not singer who plays a bit of drums.
I’m a drummer that sings a bit.”
O
disco terminou. Como eu usava streaming, joguei para o EP da banda em que seu
filho Nic Collins é baterista e um grande baterista!
O
coração é ritmo. Pedalar é ritmo. Correr é ritmo. Caminhar é ritmo. Viver é
ritmo.
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