Se
a tragédia se anuncia, eu realmente não sei. Mas crer é uma força que faço
diariamente. Há tempos essa conversa vai guardada dentro de mim, embrulhada,
pronta. Solto por aí tardiamente – antes tarde do que nunca – mesmo que muita
coisa deva ir com cada um de nós para o fundo do mar, às profundezas da terra,
para o esquecimento eterno.
Não
preciso recordar. São vivas essas palavras, vivas tanto quanto me mantenho de
pé e seguindo.
A
manhã pairava calma, mas desde muito cedo eu me angustiava. Um aperto no peito,
sabe Deus o que era e o que é. Suava em ar frio e temia que naquela
terça-feira, 7 de Setembro de 2021, de fato um golpe de mais retrocesso fosse
dado. Via gente sumindo como eu li nos livros e expliquei nas escolas. E a
manhã pairava calma, mas eu angustiado.
O
velho me sorriu, um dia há de me ralhar para me acertar um caminho torto aqui
ou acolá, mas me sorriu, ofereceu água, café, me perguntou como eu andava e
olhou nos meus olhos sôfregos ao perguntar. Não menti, não sou pessoa de mentir
o que não posso. Fiquei em silêncio e dei um riso tão sofrido quanto meus dois
olhos que não sei bem a cor.
Ouvia
meu nome completo sendo repetido, o chocalhar dos búzios, meu nome completo
sendo repetido, as palavras em um idioma que não conheço sendo recitadas. Como sempre eu buscava alguma
coisa que não eram respostas, talvez perguntas que também nunca faço, nem peço
por mim. Mas contava a contas, as moedas e as pedras sobre o pano no qual já se
passaram muitos jogos e muitos destinos.
Tudo
que ali foi dito, ali ficou mas vem comigo. E é só o que interessa até aqui. Naquela
mesma manhã serena terminei Jubiabá, quarto livro de Jorge Amado.
Jubiabá não fala sobre Jubiabá – pai de
santo do Morro do Capa-Negro – o romance de Jorge Amado é sobre Antônio Balduíno
de sua infância até seu abc vendido no Mercado. Sua força, andanças,
amores...
Jubiabá esse livro que tem nomes, Candomblé,
macumbas zunindo por todos os lados. Esse livro que tem palavras que a gente
não entende por que não nos ensinaram, porque a gente estuda inglês na escola
quando criança, e quando estuda, e quando é criança. Esse livro que fala sobre
amizades, mortes e eternidade num abc.
Ainda
caminho angustiado, ansioso. Só eu sei. Para alguns a vida é se tornar um abc,
para outros, melhor o esquecimento. Mas: “Para que dormir nesta noite tão
bonita?” (p. 302).
Lá
se vão vários dias e eu não sei bem o que dizer. Tento fortemente o silêncio,
me tento fortemente pelo silêncio. Há uma sensação em mim de que o falar, o meu
falar só destrói. Tento fortemente o silêncio, pois não quero a eternidade de
um abc como tanto sonhou Antônio Balduíno.
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