A roupa no varal, o sol da manhã, o vento mexendo as
folhas das árvores num quintal tão longe... No fundo a gente vive de saudade.
Conversamos solitariamente com umas sombras que se impõem num chão de terra ou
asfalto.
Chego a pensar que até o cheiro de alguma coisa ativa uma
memória de infância ou da semana passada. Pois de tudo na vida, algo que não se
ensina é sentir saudade. A gente sente e fim.
Se vejo uma criança correndo ou chorando, me vejo naquela
criança chorando ou sorrindo. Acho que ando até chorando demais. São lembranças
velhas misturadas com coisas antigas. Quando alguém me conta uma história, uma
história só sua, me pego marejando meus olhos ou desviando o olhar para baixo,
assoviando para cima. A questão é que ninguém ensina a gente a sentir saudade.
Você já veio para o mundo com esse sentimento.
Mesmo que não saiba explicar direito, sente falta do
útero, sente falta da pipoca doce naquele começo de beco do calçadão
movimentado. Sente até um desassossego ao se dar conta que o barulho do trem
urbano te comove.
Mas acho que as manhãs de sábado são mais sofríveis na
memória – talvez memória seja um bom bocado de saudade – pois às vezes me vejo
imaginando, lá longe, o que eu estaria fazendo: olhando para a cidade lá
embaixo? Descendo para ir ao Centro bater perna naquele sol de inverno? Ou
simplesmente olhar os cachorros deitados? Não sei.
Domingo também não me vale muito, é tão angustiante
quanto. Fica mais pesado. Se saudade é um pouco de solidão, domingo prevê que
seguirei sozinho. No fundo, a gente é saudade.
Um comentário:
Falando nisso, como anda você, caro Tricolor semifinalista?
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